Conheci ele no Scorpions. Essa frase pode parecer meio óbvia se você pensar que ele estava há vinte anos tocando na banda. Mas o baterista em questão já tocou em outras bandas, e ficou conhecido em Kingdom Come lá no final dos anos 80. Ele tocava bateria, ninguém tocava como ele. Eu não ouvia Kingdom Come, mas ele estava lá. Tocando. Nunca vou esquecer a foto dele de longas madeixas loiras que vi numa reportagem da época.
Quando meninos brincavam de bateria na garagem, ele já destruía tudo. Enquanto alguns tocavam medianamente, ele crescia no Wild Horses. Quando pensavam em fazer sucesso, ele já era baterista da maior banda de rock alemã. O estilo dele, irreverente e ousado, deixava muito claro que ele sabia o que estava fazendo. Foi sincronia imediata. Para todos os fãs, acho.
Passamos alguns momentos juntos sem que ele nem soubesse disso. Ele no CD, eu no meu quarto. Ele no DVD, eu no sofá. De lá migramos para ele no palco, eu na plateia. Logo estávamos tirando foto juntos, com ele me enforcando, como faz com todos.
Começamos a virar fã e ídolo quando ele estava tocando no Acoustica. Fez com Scorpions vários shows, vi vários deles na mesma turnê. Aprendi com ele a apreciar mais a bateria, e me fez levar muita bronca porque o som estava muito alto. Escolhia os discos e botava pra tocar, esquecia do mundo. Ouvia repetidamente, sem cansar. Viajamos o mundo, ele no disco, eu no fone de ouvido. Eu sempre esperava pelo Kottak Attack. Das músicas que mais gosto, ele está tocando em quase todas elas. Aprendi o que era rock e punk rock, e que um baterista de hard rock pode usar lápis no olho como um punk e andar sempre com as unhas pintadas e descascadas. E nunca esqueci três palavras: You Kick Ass! Coisas que outras bandas contemporâneas ao Scorpions não têm porque não tiveram a sorte de tê-lo como baterista.
Um dia, ele foi afastado do Scorpions. Ele estava com problemas de saúde, precisando de um descanso. Não foi fácil. Sofremos mais do que os fãs sofreram na década de 90 com a saída de Herman Rarebell. E agora ele precisou sair definitivamente. Não tem um momento que eu não lembre dos backing vocals que ele fazia e pense: Cadê ele? Parece que, para sempre, vai fazer falta. Ao menos ele nos deixou filhos: seus discos, suas gravações. Ele estará para sempre na história da banda. Quem sabe, no futuro, filhos novos, de novos trabalhos, novas gravações, nova banda.
Essa semana, pela milésima vez, ouvi músicas em que estivemos juntos: ele no palco, eu na plateia. Não por acaso muitas de minhas favoritas. E o que me deu foi uma felicidade muito profunda por um dia ter tido a oportunidade de vê-lo tocar ao vivo com Scorpions. E ter isso documentado em fotos, gravações - e em tantas músicas. Não falta nada.
Esse texto foi uma pequena homenagem a James Kottak (inspirado em um texto de Gregório Duvivier) por sua grandiosidade e importância na banda. Nunca será esquecido. E que Mikkey Dee seja muito bem vindo!
English:
I apologize for the inconvenience, but I need to talk about James
This text is to pay homage to James Kottak (inspired by a text by Gregório Duvivier, in Portuguese), for his importance and greatness in the band. He will never be forgotten. And may Mikkey Dee be very welcomed!
Esse texto foi uma pequena homenagem a James Kottak (inspirado em um texto de Gregório Duvivier) por sua grandiosidade e importância na banda. Nunca será esquecido. E que Mikkey Dee seja muito bem vindo!
English:
I apologize for the inconvenience, but I need to talk about James
I met him the Scorpions. This may seem very obvious if you think he was in the band for 20 years. But this drummer has played in other bands, and became well-known while playing with Kingdom Come in the late 80’s. He played the drums, no one played like him. I didn’t use to listen to Kingdom Come, but he was there. Playing. I’ll never forget that picture of him with long hair I saw on an article from that time.
When boys used to pretend to play drums in their garages, he was already smashing it. While some were average players, he grew with Wild Horses. When they were thinking about being famous, he was already the drummer for the greatest German rock band. His style, irreverent and audacious, made it clear he knew what he was doing. It was instant synchrony. For all the fans, I believe.
We spent some time together without him knowing about it. Him on the CD, me in my bedroom. Him on the DVD, me on the couch. From there we took it for him on the stage, me in the audience. Soon we were taking pictures together, with him choking me, as he did with everyone.
We became idol and fan when he was playing Acoustica. He did many shows with the Scorpions, I saw many of them on the same tour. I learned to appreciate the drums more with him, and I got lectured a lot because the sound was too loud. I would choose a record and let it play. I would forget about the world. I’d listen again and again and again. We traveled the world. Him on the record, me with the headphones. I always waited for the Kottak Attack. Of the songs I like the most, he plays most of them. I learned what rock and punk is and that a hard rock drummer can wear eyeliner and walk around with chipping nail polish on their hands. And I never forgot three words: You kick ass! Things that more modern bands than the Scorpions don’t have because they were never lucky to have him as a drummer.
One day, he went on a leave from the Scorpions. He had health issues, needing support and rest. It wasn’t easy. We suffered more than the fans have suffered when Herman Rarebell left the band in the 90’s. And now he’s definitely out. There isn’t a moment I don’t remember his backing vocals and think: Where is he? It seems that he’ll be missed forever. At least he left us his children: his records, his songs. He will always be a part of the band’s history. Maybe in the future there will be new children from new projects, new recordings, new bands.
This week, for the hundredth time I listened to songs where we were together, him on the stage, me in the audience. Many of them my favorite ones, not by accident. And I felt this profound happiness for one day having had the opportunity to see him playing live with the Scorpions. And for having documented this in photos and images, and in so many songs. Nothing is missing.
This text is to pay homage to James Kottak (inspired by a text by Gregório Duvivier, in Portuguese), for his importance and greatness in the band. He will never be forgotten. And may Mikkey Dee be very welcomed!