Seguindo nossa tradição de entrevistas, e celebrando nossa junção com a Scorpions News, o Scorpions Brazil tem o prazer de apresentar mais uma entrevista com Klaus Meine, a primeira da SN!
Estivemos em uma conversa descontraída sobre o novo álbum, processo de gravação, curiosidades do passado, os tempos atuais e até a possibilidade de conteúdo para a internet! Aproveite a mais recente e exclusiva entrevista com Klaus!
Read the interview in English on Scorpions News.
Klaus Meine: Olá, olá!
David: Oi, Klaus?
KM: Sim. Oi!
D: Oi! Aqui é o David.
KM: David? Oi! Como você tá, David?
D: Estou bem, Klaus. E você?
KM: O clima está muito bom em Hannover. E aí em São Paulo?
D: Ah, eu estou em Salvador. Sabe, Salvador? Uma cidade no nordeste do Brasil, na Bahia.
KM: Salvador, sim. É onde você está agora?
D: Sim, eu moro em Salvador.
KM: Ah, você está em Salvador agora, Salvador da Bahia,
D: Sim, exatamente.
KM: Ok, ok, ok.
D: Ouvimos a ótima entrevista para o fã clube francês, você disse que está fazendo um novo trabalho em casa com a ajuda de Hans-Martin Buff, gravando suas próprias faixas, mixando, fazendo ajustes… deve ser desafiador. Você enxerga o trabalho dos engenheiros e produtores com outros olhos agora?
KM: É muito divertido, sabe, eu gosto bastante. Eu já trabalhei com gravações sozinho antes, mas sabe, desta vez é diferente porque nós não conseguimos estar em uma sala juntos, não há interação, nem um produtor. Com um engenheiro você fala "preciso disso mais alto, preciso que isso suba mais nos vocais" ou coisas assim. É bem diferente dessa vez, e de verdade, eu tenho muito respeito por esses caras trabalhando nessa parte técnica de fazer um álbum. Mas é ótimo, eu me divirto e com uma ajudinha do meu amigo Martin Buff, eu consigo fazer as coisas e no final do dia eu dou uma olhada em uma faixa, ou uma faixa de voz e "olha, não está tão mal, Klaus, mas talvez eu faça de novo amanhã". (Risos). "Posso fazer melhor."
D: Sobre o novo álbum, você poderia nos dizer o nome de alguma música, provavelmente um título, ou um single, talvez?
KM: Não, é muito cedo para falar sobre isso, sabe, muito cedo. Temos bastante material e no final, quando tivermos uma chance de ir à Los Angeles e nos juntarmos com Greg Fidelman para realmente começar a produção, seja ele vindo pra cá ou nós indo para Los Angeles, depende de toda essa situação do corona. Por causa da quarentena é bem ruim para nós, e para todo o mundo. Nós estamos aqui e o Greg em Los Angeles, mantemos contato pela internet, pelo Skype, Facetime e essas coisas, e tentamos aproveitar ao máximo como dá, sabe, tentando dar continuidade às músicas. Mas claro, mal podemos esperar o dia em que estaremos juntos com toda a banda no estúdio, trabalhando com o Greg e o Hans-Martin, o engenheiro, e aí provavelmente eu perco o meu posto de ser o engenheiro bem rapidinho. (Risos) Vai virar história. Mas estou ansioso para voltar à vida normal, tomara que todos possamos voltar ao mundo, voltar à nossa vida diária e normal. Acho que é isso o que mais importa, para todos agora. O mundo inteiro está passando por um período difícil, é assustador e apavorante. Estamos em uma situação bem privilegiada em que ao menos podemos ficar em casa e podemos continuar trabalhando em nossos próprios estúdios, sabe. Depois da turnê que fizemos na Austrália e no sudeste da Ásia, ter a chance de voltar a um estúdio e continuar trabalhando em novas músicas, compor novas músicas e escrever novas letras, isso é ser criativo, é uma coisa maravilhosa, principalmente nos dias atuais. Estamos todos em quarentena e não podemos ir a lugar algum. Não podemos viajar, não podemos nos mexer, mas ao menos podemos ser criativos, podemos mergulhar profundamente no nosso mundo criativo. E tomara que algo bom saia de lá.
D: Conversamos ano passado sobre ter novas músicas, mas o álbum inteiro será de músicas inéditas? Ou alguma sobra pode entrar também?
KM: Não, não, não, não, Serão apenas músicas novas. Não terá nenhuma música dos anos 80 ou seja lá qual década. Não, não. Será um álbum cheio de músicas novas.
D: Certo. A próxima pergunta era sobre o Greg Fidelman, você já falou um pouco sobre ele. Qual a importância dos produtores para a banda passados mais de 50 anos de carreira? Desde Conny Plank, Dieter, Keith Olsen, os caras da Suécia...
KM: É muito importante, sabe, principalmente trabalhando com um produtor novo nesse disco. Nós gostamos muito de trabalhar com nosso amigos suecos por alguns anos. Chega um momento que é sempre bom mudar e começar um novo capítulo de um livro. É como um desafio, sabe. É como sair da sua zona de conforto, e às vezes isso é bom, é bom para a criatividade, e bom para a performance em geral, para realmente ter um resultado bom no final do dia, sem tentar fugir ou tentar do jeito mais fácil. Não, não é do jeito mais fácil... Mas também não estou dizendo que alguma vez foi fácil. [Risos] Nunca é fácil entrar no estúdio para fazer um álbum novo, sabe, mas é uma abordagem diferente do que entrar no estúdio e ter a banda toda tocando as músicas, tomara que possamos fazer isso em breve. É uma energia e uma abordagem diferente, e tudo está começando de novo, fazendo um novo álbum. Acho que isso vai transparecer na música, vai transparecer na performance da banda.
D: Eu estive com Rudy Lenners em Liège no início do ano, nós conversamos sobre The Hunters, o que você se lembra sobre isso?
KM: Nada! [Risos] Não me lembro de nada mesmo, a não ser que foi a primeira vez que trabalhamos com o Dieter Dierks e queriam que nós, por algum motivo, gravássemos versões em estúdio de algumas músicas do Sweet. De repente estávamos no estúdio, trabalhando com o Dieter em músicas que eram bem conhecidas, mas com as letras em alemão, e eu acho, de alguma forma, que foi como se o Dieter estivesse nos testando. E ficou bem legal. Depois disso, fomos direto para as gravações do In Trance... Eu acho que foi um teste, sabe. Nós éramos uma banda nova e o Dieter nos viu e viu futuro naqueles alemães de Hannover, e fomos mandados direto para gravar alguns hit bem famosos da banda britânica Sweet. Acho que ficou bem legal. Hoje em dia elas são ítens de colecionadores, muitos procuram [essas gravações] no mercado clandestino. Mas foi divertido para uma banda nova.
D: O Rudy Lenners me deu um cópia de presente, é muito raro. Também nessa última viagem, estive com Dieter em sua casa em Stommeln, falamos sobre o início do contato entre vocês, as extensas gravações, o duro trabalho que era, até mesmo das ajudas da mãe de Dieter e Corina Fortmann, por exemplo. Tantos anos depois, o que há de similar no processo de gravação nos dias de hoje?
KM: Nos dias de hoje? Ah... É um mundo completamente diferente nos dias de hoje, sabe. Não sei... Acho que depois de tantos anos existe uma confiança maior em ser um compositor, em todas as áreas, como nas gravações, fazer um álbum... Existe mais experiência em todas essas áreas. Sabe, nós éramos uma banda nova e inexperiente, mas foi ótimo e tínhamos sede, assim como o Dieter também tinha sede de sucesso, e viu potencial nessa banda novata. E também, ele deu forma à banda de uma maneira muito positiva, ele já tinha bastante experiência. Ele ajudava de várias formas. Eu me lembro que o Dieter era muito preocupado com a expressão nas músicas, sabe. Ele dizia "Klaus, você tem uma ótima voz, mas você precisa cuidar a expressão, é tão importante, faz muita diferença no fim das contas", e ele estava certo. Eu aprendi um bocado com o Dieter naquela época, e nunca esqueci que uma coisa é ter uma ótima voz e ser um ótimo vocalista, mas outra coisa é ser um artista e ser tornar um artista no estúdio e todas essas áreas. Nós éramos bem jovens sabe, mas no final das contas, estávamos no mesmo caminho, no caminho para o sucesso internacional.
D: Ele vai gostar de ouvir isso. [Risos]. Você pode falar um pouco sobre o processo do Savage Amusement?
KM: Não há muita coisa que eu possa dizer sobre esse álbum porque foi o último que fizemos com o Dieter, foi o último álbum no final dos anos 80, e que eu me lembre, tudo foi meio produzido demais, sabe. Apesar de que o álbum fez bastante sucesso pela América, tinhas umas músicas boas. Mas acho que tinha uma tensão naquela época e nós só queríamos ser livres, tentar coisas novas, falar com novos produtores, ir a lugares diferentes... Havia essa tensão naquela época, mas foi uma ótima época com o Dieter, e ele com certeza compartilha de uma grande parte do sucesso da banda. E aqueles foram ótimos anos para aprender muito sobre fazer parte de uma banda de rock, se tornar artista e ser jogado numa competição mundial, como no Japão, ou mais tarde nos Estados Unidos, tocando com bandas incríveis, dividindo o palco com Van Halen, Aerosmith, Ted Nugent e todas as outras bandas incríveis. Nos anos 70, fomos para o Japão e gravamos um disco ao vivo lá. Outra orientação do Dieter. Aprendemos a cada ano, até que estávamos prontos para atravessar os anos 80, e no final da década foi a hora de mudar. O próximo passo foi o Crazy World. Tivemos uns bons anos em Colônia. David, eu sei que você foi lá encontrar o Dieter e conhecer os estúdios e os lugares todos, eu tenho ótimas lembranças de lá. Algumas são lembranças fortes, de trabalhar demais [risos], mas ótimas lembranças também, e muita diversão. O Dieter realmente foi responsável por uma grande parte desse sucesso naquela época.
D: Após isso vocês seguiram com Keith Olsen que infelizmente faleceu recentemente, essa parceria poderia ter durado mais tempo?
KM: Com o Keith Olsen? Não, porque antes de termos trabalhado com o Keith, nós estávamos em contato com o Bruce Fairbairn, de Vancouver, e o Bruce decidiu gravar o AC/DC. Então encontramos o Keith and ele trabalhou conosco no Goodnight L.A. Studio, na grande Los Angeles, e ele foi ótimo, no fim das contas foi o produtor perfeito para o Crazy World. [O álbum] também fez bastante sucesso, porque o Keith deixou o seu toque, seu DNA, suas impressões digitais em tudo, todas as músicas, sabe? Foi ótimo trabalhar com ele. Então voltamos ao Bruce Fairbairn com o próximo disco, que foi Face The Heat. E isso porque já falávamos com o Fairbairn antes do Crazy World. Era para ele ter sido o produtor do Crazy World, mas não deu certo. No fim das contas foi o Keith, e foi um momento incrível, foi um capítulo inteiramente novo para os Scorpions.
D: Você já falou que gosta muito de Netflix, e tem assistido uma série que eu também adoro, Designated Survivor.
KM: Sim, falei sobre isso recentemente. O Kiefer Sutherland, sabe. Eu tive o interesse de assistir porque o Rudolf e eu, nós encontramos o Kiefer Sutherland em algum evento do ano passado na Alemanha, em Frankfurt. Apenas nos encontramos, e que cara legal! Eu já havia encontrado ele antes em Los Angeles, então eu quis olhar a série, assisti alguns episódios e fiquei vidrado. Um cara legal, e ele fez um ótimo trabalho no papel de presidente nesse filme da Netflix.
D: Ele é tipo o Jack Bauer, mas como presidente.
KM: É, é, como no 24 Horas. Exatamente. Tem bastante coisa por aí, como uma série espanhola agora que estamos assistindo. Casa do Dinheiro, é esse o nome? [ Nota do Editor: Ele se refere à serie La Casa de Papel]
D: Desculpa, eu não sei.
KM: Não sabe? Ok. [Risos] É, tem bastante coisa por aí, principalmente nesses dias de pandemia, semanas, meses e meses, enquanto estamos em quarentena. É uma benção ser criativo e trabalhar em músicas novas, letras, é realmente uma benção, mas por outro lado, eu gosto muito de ficar em casa com as pessoas que eu amo, com a Gabi, podemos passar muito mais tempo juntos agora do que jamais pudemos antes, por causa das turnês ao redor do mundo por tantos anos que raramente tivemos um período como este em que podemos ficar em casa e aproveitar a vida juntos, em casa.
D: Você chegou a ver os filmes de Mötley Crue, Bohemian Rhapsody, Rocketman?
KM: Sim, eu vi todos! [Risos]
D: Tem vontade de ter algo assim com Scorpions?
KM: Olha, acho que um dia esse filme vai sair, tenho certeza. São muitas as propostas de diretores para fazer um filme, mas até agora não foi a coisa certa, nem o conceito certo. O momento vai chegar, tenho certeza. O filme do Queen, sobre o Freddie, é realmente uma obra de arte, muito bem feito, muito emocionante. Acho que alguns [filmes] são ótimos, outros são mais ou menos. Se isso se tornar uma estrada para os artistas, principalmente as lendas, vamos ver como os Rolling Stones se saem. [Risos] Acho que eles merecem ser os próximos.
D: Eu sei que recentemente você participou de filmes, como o "So viel Zeit", algo como o Rockpalast.
KM: Sim, é um filme alemão com vários atores alemães conhecidos e nós fizemos uma participação especial nele. Na verdade, eu ainda não assisti. Devo ter o DVD aqui em algum lugar. [Risos] Um dos atores é meu amigo e ele me perguntou se não poderíamos fazer uma participação especial no filme, e eu achei que seria legal, e foi bem divertido mas ainda não assisti.
D: E alguns anos atrás, com o Otto Waalkes, você fez uma participação num filme cômico chamado "Der Liebesfilm", em umas cenas bem engraçadas, você se lembra disso?
KM: Der Libesfilm? David... [Risos] Como você consegue todas essas informações? Incrível. Como que essas informações chegam até Salvador, na Bahia? [Risos]
D: [Risos] Muitos anos de dedicação e curiosidade.
KM: Esse cara, o Otto, é bem famoso na comédia alemã, ele fez alguns filmes nos anos 90. Ele me perguntou se eu poderia participar e fazer uma cena com ele, assoviando Wind of Change. Ele é um cara bem engraçado. Na verdade, é uma lenda da comédia aqui na Alemanha, há muitos e muitos anos, então foi um prazer ter feito essa participação. Nunca pensei que um cara no Brasil fosse descobrir isso, mas é isso aí. [Risos]
D: [Risos] São cenas bem engraçadas, bem legais. Depois de encerrar a “Crazy World Tour”, você imaginava que esse mundo ficaria mais louco ainda?
Rudolf Schenker, David, Klaus Meine e Roberta em São Paulo com o mapa desenhado pelo David. |
KM: Que o mundo louco ficaria mais louco? É um mundo bem louco agora, é sim. Todos esperamos que todo mundo e nossos fãs no Brasil... Sabe, nós nos divertimos muito no Brasil tocando no Rock in Rio e em todas as cidades que fomos, nos divertimos muito e eu gostaria de agradecer os nossos fãs no Brasil pelo carinho e apoio de todos esses anos. O Rock in Rio no ano passado foi realmente um momento muito especial para nós. O que posso dizer? Eu espero que fiquemos todos saudáveis e bem nestes tempos de pandemia com o mundo infectado, estamos todos vivendo momentos difíceis, vamos nos manter em pé e fortes, e tomara que possamos ver todos os nossos fãs de novo em breve com um novo álbum lançado, com o pé na estrada, com novas músicas no setlist, seria bem legal. [Risos] Por agora, espero que todos possam estar saudáveis e que tudo fique bem, e que algo surja para eliminar esse vírus mortal.
D: Você também mencionou a possibilidade de fazer uma transmissão na internet com os Scorpions. Você faria algo acústico, uma live no Facebook/Instagram? Ou uma transmissão ao vivo para responder perguntas dos fãs? Seria legal nestes tempos de quarentena.
KM: É. Sabe, muitos artistas agora estão escrevendo músicas novas e refletindo a respeito do que estamos todos passando hoje em dia. Quando você é um compositor, quando você é criativo, você automaticamente senta para pensar e colocar esses pensamentos em uma música. Bom, talvez sim, talvez não, quem sabe? É que agora é muito cedo para ter certeza, mas espero que saia uma música em breve.
D: Você tem uma mensagem para os fãs brasileiros?
KM: Espero que você estejam seguros, com saúde a espero que possamos ver vocês de novo. Nós amamos todos os nossos fãs na América Latina, amamos nossos fãs no Brasil e aproveitamos muito aí em 2019. O Rock in Rio foi simplesmente maravilhoso e nunca vamos esquecer, foi realmente muito especial para todos nós. Nós amamos o Brasil e esperamos ver todos vocês de novo. Fiquem bem, estejam saudáveis e se cuidem. Nós amamos vocês.
D: Certo, muito obrigado, agradeço o seu tempo.
KM: Certo, David! Tudo de melhor para você, e diga olá para a minha amiga Roberta, fiquem seguros, fiquem saudáveis, ok?
D: Espero lhe ver novamente, quem sabe no ano que vem.
KM: Seria legal. Obrigado, David! Espero te ver em breve. Tchau, tchau!
Ouça abaixo a entrevista! (em inglês)
David Araújo: Entrevista, roteiro e design
Transcrição e tradução: Patrícia Camara
Roteiro, revisão e diagramação: Roberta Forster