Fãs de Uli Jon Roth, preparem-se para uma jornada incrível com o lendário guitarrista! Passamos uma hora conversando Uli, ele compartilhou detalhes sobre seus projetos futuros, incluindo o lançamento de seu livro de mais de 600 páginas e sua preocupação com a Amazônia. Ele também falou sobre suas passagens anteriores pelo Brasil e como sua conta no Patreon está lhe permitindo se conectar de forma mais profunda com sua base de fãs através de workshops específicos para guitarristas e discussões sobre os mais variados assuntos. Não perca essa chance de mergulhar no mundo de Uli Jon Roth. Confira agora!
Entrevista disponível em áudio (inglês).
Roteiro e entrevista: David Araújo, Roberta Forster, Patricia Camara e Larissa Oliveira.
Tradução: Patrícia Camara e Roberta Forster.
Edição da imagem e áudio: David Araújo.
PATI: Bom deixe eu me apresentar. Eu sou a Patricia, Uli. Na verdade, nos conhecemos quase exatamente há 10 anos em São Paulo, fizemos uma entrevista com você há cerca de 10 anos que...
ULI: Eu lembro do seu rosto. Sim.
PATI: Ah, que bom ouvir isso. Eu também me lembro muito bem daquele dia. Foi incrível. O show que tivemos naquele dia e foi uma turnê fantástica…
ULI: Era o show com Michael Schenker? Ou qual foi?
PATI: Sim, sim, era o show com Michael Schenker, aquele em que ele deixou o palco mais cedo e você até veio conversar conosco sobre isso...
ULI: Não me lembre disso (risos)
PATI: Desculpa. (risos)
ULI: É. Ok. (risos)
PATI: Temos aqui a Roberta , que você já conheceu também.
ULI: Sim, é claro que sim.
ROBERTA: Oi, Uli, você se lembra de mim? A última vez que te vi foi na Alemanha no seu aniversário com Lars Petersen no show em Hanover.
ULI: Sim, em 2018
ROBERTA: Eu estava lá.
ULI: Sim. Legal.
DAVID: E Larissa do site Wikimetal, acho que você já fez uma entrevista com o Wikimetal, certo?
LARISSA: Sim. Há alguns anos, acho que um dos meus chefes entrevistou você, Uli, mas não eu.
ULI: Eu não me lembro disso agora.
LARISSA: Sim, mas acho que foi via telefone, algo assim. Então eu sou a única que ...
ULI: Eu particularmente não me lembro das entrevistas telefônicas, são tantas e no final é mais fácil se lembrar de um rosto.
LARISSA: Sim, mas não foi comigo. Eu sou a única pessoa que ainda não te conheceu, então prazer em conhecê-lo.
ULI: Prazer em conhecê-la.
PATI: Você se sente confortável se deixarmos nossas câmeras ligadas? Você gostaria de desligar tudo?
ULI: Sim, eu pedi, mas é bom ver vocês.
PATI: Ok.
DAVID: Então, Ok, obrigado pela entrevista. Vamos começar com a Patricia. Pati, a primeira pergunta.
PATI: Bem, nossa primeira pergunta é sobre o Patreon, você recentemente criou uma conta lá, então gostaríamos de saber como surgiu essa ideia e o que estará disponível para os fãs lá, como têm sido os primeiros dias.
ULI: Bem, provavelmente o David pode falar sobre isso tanto quanto eu, já que ele está lá desde o começo, não é? E parece que ele não está escutando, não é?
PATI: Eu acho que ele está. Sim, ele está te escutando.
ULI: Ok.
PATI: O David está lá, ele mencionou que tem estado lá com você.
ULI: David, foi apenas uma brincadeira, uma piada alemã, não muito engraçada. (risos)
PATI: Acho que ele ainda não tem esse senso de humor. Ele logo vai pegar o jeito.
ULI: Sim, sim, sim, sim. Ele acha que tudo o que eu digo é sério, mas não é. Às vezes é sério, mas nem sempre. Enfim, a ideia do Patreon surgiu através de alguns amigos meus, porque eu não sou tão fã do Facebook e dessas coisas, e eles disseram que há uma maneira de você realmente interagir com sua base de fãs de maneira mais íntima e direta, e é o Patreon. Então, no começo, eu pensei "ah, é só mais uma dessas [plataformas]", então eu não levei isso muito a sério. Mas então eu dei uma olhada e pensei que poderia ser uma boa ideia. Uma vez que começamos a fazer isso, eu comecei a gostar muito. Eu gastei bastante tempo escrevendo coisas para o Patreon, para o canal do Patreon, porque me dá a chance de… Como devo dizer… me aprofundar, sabe? Na internet normal, é tudo sobre um período de atenção de 5 minutos e isso é o oposto do que eu sou - eu realmente não gosto dessas coisas curtas do Tik Tok, sabe, eu sou mais o oposto, quero que as coisas se aprofundem. E muitas pessoas no Facebook - claro, eu não sou assim, mas as que vêm para meu canal do Patreon são, então… Se eles fizerem uma pergunta, eu posso responder um pouco mais aprofundadamente e com mais precisão, e eu gosto disso. Então sim, é isso que está acontecendo. É uma comunidade que está se desenvolvendo lá, frequentemente com mais, digamos, mais seriedade, mais amantes dedicados à música. E acho que muitos deles também estão interessados em minhas coisas mais esotéricas, sabe, a minha filosofia, ensino e tudo isso. E, por acaso, no domingo, vamos ter nossa segunda conferência no Zoom. Você vai estar lá, David?
DAVID: Sim, vou tentar porque estarei viajando no domingo, mas acho que…
ULI: Oh, você irá viajar.
DAVID: Sim, mas acho que estarei lá.
ULI: Legal. Sim, então isso responde sua pergunta, Patricia?
PATI: Sim. Então você tem tido sessões no Zoom com pessoas. É mais como um bate-papo? Uma conversa livre? Além disso, será oferecido mais alguma coisa?
ULI: É um pouco de tudo. Bom, é realmente legal poder falar com todos num lugar só, sabe. Alguns estão em Tóquio, alguns em Osaka, Cingapura, São Paulo, Hamburgo e Inglaterra. Então isso é legal. E muitos dos que estão no Patreon, eu os conheço há muito tempo. Alguns deles são meus amigos próximos, também estão lá. E então estamos conversando, eles estão fazendo perguntas, e também tem alguns tópicos, sabe. Da última vez também toquei um pouco de guitarra. É isso que está se desenvolvendo agora. Na verdade, vamos abrir um novo nível no Patreon especialmente para guitarristas, porque muitos de meus fãs são guitarristas e há muito interesse. E alguns deles são bem bons ou até mesmo muito bons guitarristas. Na verdade, no nosso canal do Patreon, acho que pelo menos 13 ou 14 pessoas possuem guitarras Sky, então faz sentido. Vamos fazer oficinas dedicadas no Patreon, como uma vez por mês. Eu vou sentar por cerca de uma hora com a guitarra e é basicamente como uma masterclass online onde eu estou demonstrando meus... digamos, meus principais leads de guitarra, começando pelos Scorpions até Electric Sun e então... todas esses leads de guitarra que me levaram de um nível ao outro, pois é como uma história escrita nos álbuns. As técnicas de guitarra, elas se desenvolveram ao longo dos anos a partir do Fly To The Rainbow passando pelo In Trance, pelo Electric Sun e então mais avançadas em Sky of Avalon, culminando no Metamorphosis; e então vou pegar os solos de guitarra mais importantes e desconstruí-los e realmente demonstrar como é feito, e também vou enviar algumas partituras e uns fundos musicais para que eles possam trabalhar na música eles mesmos, e também lhes dará a oportunidade de tocar algo na frente da câmera. E então eu darei minha opinião e darei alguns conselhos, talvez sobre o que pode ser melhorado, etc. Então isso começará muito em breve. Eu vou explicar mais sobre isso na próxima reunião no Zoom.
Uli em chamada de vídeo para o Patreon.
www.patreon.com/ujr
PATI: Certo.
LARI: Uli, você sempre encontra formas de se aproximar dos fãs, seja com o Patreon ou com meet and greets, e eu gostaria de saber, como um artista, o que você aprende com o seu público nesses encontros?
ULI: Na verdade, eu estou aprendendo muito (risos), porque é importante para mim que eu me comunique com…Bom, primeiramente, eu adoro me comunicar com as pessoas, ponto final. Vou dizer do que eu não gosto, é aí que eu tive um problema com várias redes sociais. Eu não gosto quando é uma coisa superficial e não-real, sabe, encontros superficiais. Ok, não tenho problema com conversa fiada, mas na verdade, eu acabo achando isso meio entediante. Então eu gosto de me comunicar individualmente com as pessoas, então nos meet and greets ou nesses encontros do Patreon, onde as pessoas podem escrever suas perguntas e eu vou entrar lá e tentar entender o que as pessoas estão dizendo porque isso é muito importante para mim. Porque, como artista, é tudo sobre uma ressonância,sabe? Eu não estou fazendo isso só por mim, não é uma coisa sobre autogratificação. Claro, um pouco disso é porque eu amo o que faço, mas se não houvesse um público, então não faria sentido. É quase como caçar uma borboleta - não que eu jamais fosse caçar uma borboleta, mas no sentido figurado, ir até o jardim e capturar uma borboleta linda, e levá-la para casa. Eu vou querer mostrá-la para os meus amigos, certo? Se eu a capturasse só para mim, seria legal, mas seria melhor se eu compartilhasse com outras pessoas. O mesmo acontece com a música. Ou se eu tenho uma ideia ótima, eu quero compartilhar com um público, porque esse é o meu trabalho, e essa é a minha vocação. Eu sou uma pessoa que sai à procura de borboletas e as traz para compartilhar com as pessoas, e os tipos de borboletas que eu encontro são, provavelmente diferentes das que outro artista encontra, sabe? E algumas pessoas preferem as minhas borboletas. E todos os tipos de borboletas que eu trago, eu as apresento, ou algo do tipo. Então eu acho que é sobre ressonância, sabe. E o meet and greet me dá uma boa noção de reflexão, porque às vezes as pessoas apenas dizem umas poucas palavras e não se consegue tanta informação, mas às vezes elas me contam uma história e isso tem valor para mim. Também é legal ver que algumas coisas que demos duro no estúdio ressoam com as pessoas e tem um significado para alguém, sabe. Acho que é como uma via-dupla.
LARI: Eu tenho outra pergunta e acho que é a continuação perfeita para o que estamos falando, então desculpa, gente, por estar bagunçando a ordem mas… Você acabou de dizer como é importante compartilhar e como a música deve ser compartilhada. Contudo, eu imagino como você encontra um equilíbrio nisso, pois quando você decidiu deixar os Scorpions e começar o Electric Sun, acho que a maioria do seu público ficou um pouco decepcionado ou surpreso com o rumo do novo som. Então como você encontra o equilíbrio perfeito entre a sua paixão artística e os fãs também?
ULI: É verdade. Quando eu deixei Scorpions, muitas pessoas esperavam que eu fizesse basicamente mais como Virgin Killer ou Sails of Charon, e coisas assim. Então principalmente o primeiro [álbum], Earthquake, era completamente – bom, não completamente, era de algumas formas quase o oposto, e levou tempo, o álbum recebeu mais reconhecimento nos anos seguintes porque as pessoas não o comparavam mais com os Scorpions, mas no início isso foi um problema. É sempre um problema quando você está se desenvolvendo como artista, principalmente quando você está expandindo o seu repertório, a sua linguagem e formas de expressão. É uma coisa muito humana que todos temos tendência a ter certas expectativas. Sabe, se eu for comer algo em uma pizzaria, eu espero comer pizza, certo? Ou um espaguete italiano, etc. Eu ficaria surpreso em ver um chow mein no cardápio. Então se os Scorpions fazem um tipo de coisa, e os fãs amam isso, tudo bem, amamos esse tipo de música. Agora se um dos integrantes principais, ele sai e ele… Ele abre um outro restaurante e não tem pizza dos Scorpions, mas de repente tem… Bom, eu não sei qual a comida típica do seu país, do Brasil, mas você sabe o que eu quero dizer. Basicamente não se satisfez a expectativa que existia. Então essa é uma parte da resposta. Tudo está relacionado às expectativas. Mas anos depois, quantos as expectativas são esquecidas, e a pessoas forem ao meu restaurante de novo, talvez elas digam “não é a pizza dos Scorpions, mas é algo bem diferente, e se não esperamos pizza, talvez não seja tão ruim.” e vejam as coisas como elas são. E foi exatamente isso que aconteceu com o meu período no Electric Sun, algumas pessoas começaram a aceitar depois de um tempo porque elas perceberam “ah, isso não é Scorpions, é algo completamente diferente.” E veja bem, como artista, quando você começa a crescer e a ir a lugares que você nunca foi antes, e você traz diversos tipos de borboletas e flores lindas, ou seja o que for, você só consegue trazer o que encontrar, sabe. Basicamente, eu fui verdadeiro [comigo mesmo], foi isso que eu fiz. Eu queria ir a certos lugares, e alguns do público me seguiram, acharam legal as coisas que eu estava encontrando, mas de novo, não eram as mesmas borboletas que você encontraria no zoológico ou no jardim do Scorpions. Só isso, sabe. Eu tenho que ser fiel a mim mesmo. Aliás, eu não sei como ser diferente porque se eu tentar fazer algo apenas para agradar o público, acho que seria um tiro pela culatra pois eu nem saberia como fazer isso. O único motivo de eu ter o mínimo de sucesso é porque eu sempre segui os meus instintos, e às vezes isso me leva a lugares com os quais as pessoas se identificam, e às vezes me leva a lugares com os quais menos pessoas ou ninguém se identifica. Eu tenho que ir a esses lugares de qualquer jeito. É o meu trabalho como um desbravador, assim por dizer. Então às vezes eu vou abrir uma porta onde muitos irão se identificar, e às vezes eu vou pisar em um outro jardim, e as pessoas não vão querer ir lá. Mas talvez depois de cinquenta anos elas queiram. Acontece. Às vezes não é o momento certo para certas ideias, porque… Tem uma coisa na Alemanha que chamamos de zeitgeist, que significa o espírito do tempo em que vivemos, e muitas pessoas se conectam a isso, principalmente quando são jovens, e depois elas parecem se transformarem mais nelas mesmas e não tão comprometidas com o zeitgeist que elas conhecem. E eu sou uma pessoa muito ciente desse zeitgeist, mas também gosto de fugir um pouco disso e ir além. E às vezes eu vou muito no futuro, às vezes muito no passado, mas ambos podem ser muito interessantes, sabe? Bom, dá pra falar sobre isso por horas, é um assunto muito interessante para mim. Isso responde a sua pergunta ou foi só uma grande viagem?
LARISSA: Responde sim.
ROBERTA: Você acabou de escrever um livro, certo? Como você o classifica? Você fala sobre essas coisas no livro ou é mais sobre música, ou uma biografia?
ULI: Vou dizer uma coisa, esse livro é impossível de classificar (risos). Ele não se encaixa em nenhuma categoria. Ele é muitas coisas. São mais ou menos 650 páginas e tem cerca de mil fotografias, desenhos e diagramas. É uma mistura de muitas coisas. Mas tem um fio por trás do livro, e não é autobiográfico, então não é nem um pouco sobre mim, Uli Jon Roth, mas saiu de mim. É o resultado das minhas experiências pessoais na vida e, principalmente, é a soma da minha filosofia de vida, se quiser chamar assim. Como as coisas que eu considero importantes com relação à essência do que encontrei ou tive como experiência, sabe? E eu tentei colocar isso em palavras, e acabou se tornando uma bela história. É um pouco como…Um pouco como um filme, sabe? Tem histórias dentro de histórias e ele transita por muitos assuntos diferentes.
DAVID: Uli, talvez você possa classificá-lo como “a mente de Uli”.
ULI: É o que estou fazendo, David. No centro dele, está a minha forma de ver a música e eu descobri que isso é algo que me fascina desde que eu comecei com a música, e na…Eu não quero chamar isso de teoria musical, mas no coração da música, que consiste de muitas coisas diferentes, harmonia, ritmo, melodia e muitas outras coisas, há certas leis que governam a música, que fazem da música o que ela é. E eu descobri que essas leis são basicamente as mesmas leis – elas são virtualmente idênticas às leis que governam basicamente tudo, as nossas vidas, nós mesmos, nossas mentes, nossos espíritos, e até mesmo nossos corpos. As leis da música podem ser encontradas em tudo, elas são as mesmas leis da matemática, ciência… E mesmo isso parecendo uma bagunça, eu tentei esclarecer isso, e destrinchei os componentes fundamentais, começando pelas frequências e por que certas frequência, certas notas e certas imagens tem sentido diferente, e um conjunto de energias diferente que as outras. Para ser mais específico, no sistema musical ocidental, temos 12 notas e essas 12 notas são como 12 cores de um arco-íris, e cada uma dessas notas tem suas características conectadas e que são ativadas quando uma nota é tocada. Isso é uma das coisas. Essas são as matérias-primas da construção, mas fica mais interessante ainda quando você vê a combinação disso. O que acontece quando duas notas interagem juntas, ou três em harmonia? O que acontece e por que isso acontece? E por que isso nos afeta tão profundamente? Por que certos acordes nos afetam de uma maneira mas certos acordes nos afetam de outra maneira? Por que certos ritmos fazem o que fazem? E por que existem ritmos? Isso vai longe e eu, no livro, eu passo bastante tempo analisando essas coisas e organizando uma certa estrutura tentando explicar o melhor que eu posso também para não-músicos, pois essa é a parte difícil. Algumas coisas têm termos musicais como as oitavas. Não é muito fácil explicar uma oitava para alguém que não toca um instrumento. Qualquer pessoa que toca um instrumento vai dizer “claro, isso é uma oitava, tem uma terça maior, uma terça menor," mas eu acho difícil explicar isso para quem não é músico. Mas essas coisas como oitavas, fenômenos, terça maior, trítonos, são de conceitos de importância fundamental que vão muito além da música. Então eu tentei mostrar a importância dessas coisas e como algo como um trítono, que é basicamente a combinação de duas notas opostas sendo tocadas juntas ou sucessivamente, como isso pode aparecer na vida real entre as pessoas. Porque as pessoas, para mim, também são como instrumentos musicais, e todos nós extraímos certas energias que, no fim, quando destrinchadas, não são nada mais do que exalações e manifestações musicais. Então isso é uma das muitas formas de ver o mundo com o olhar da música, e eu acho isso fascinante. Esse é o pontapé inicial do livro, mas isso se dividindo em vertentes diferentes. Eu dedico muito tempo no livro à mente humana, como a nossa mente interpreta certas coisas e por que é assim. Um objetivo principal, e que pode ser interessante para todos nós, ou para muitas pessoas, é como podemos utilizar esse conhecimento metafísico da música para aprimorar nossa funções cognitivas; basicamente como podemos crescer eventualmente com o objetivo de até nos tornarmos pessoas melhores, sabe:? Não só aprendermos a tecnicamente nos adaptar melhor a ver coisas, compreender coisas, mas também encontrar formas de finalmente entender o que é certo e o que é errado. Essa é uma das perguntas-chave que eu sempre volto [a perguntar] nesse livro. Porque hoje em dia muitas pessoas dizem que não existe certo ou errado, tudo é relativo, e até certo ponto, e de certo ponto de vista, esse é o caso. Mas para mim, a música me ensina algo completamente diferente. Me ensina que existe um certo e errado absoluto. E a música é muito simples. Você só precisa de um violão, seis cordas; você toca uma corda, ela soa perfeitamente afinada. Uma das cordas você afina um pouco para cima ou para baixo, e imediatamente o violão inteiro está desafinado, com um pequeno ingrediente errado. Agora se você sabe exatamente qual corda e afiná-la de novo, essa é a sua resposta. Só existe uma forma de afinar perfeitamente aquele violão. Existem milhões de formas de desafiná-lo, e essa é a grande diferença. Para mim, toda pergunta tem uma resposta perfeita, e o fato de normalmente não sabermos qual é não significa que a resposta não exista, sabe? E uma resposta perfeita é difícil de achar, mas a música nos ensina como chegar à resposta perfeita. Basicamente, o que estou dizendo é que existe uma verdade universal, como uma verdade fundamental, uma verdade do universo, uma verdade maior do que “isso é certo e isso é errado”, e existe a verdade relativa, que temos aqui na Terra, Como no Brasil, vocês têm certas leis e quem sabe alguém rouba um carro, essa pessoas vai para a prisão por sei lá quanto tempo. Na Alemanha talvez seja completamente diferente; no Taleban essa pessoa provavelmente seria morta imediatamente. Então essas leis são leis humanas, são relativas, mas isso não quer dizer que qualquer uma delas seja fundamentalmente certa. Eu tenho interesse em descobrir a verdade maior, e pode parecer uma grande besteira, mas eu acredito que a verdade maior exista, e o que é mais fascinante ainda, é que eu acho que somos perfeitamente capazes de descobrirmos sozinhos, pois cada pessoa tem uma conexão profunda com o que é certo e errado, está na nossa consciência, é muito, muito profundo, mas todos sabemos o que é certo e errado no fim, mas às vezes é difícil escutar e entender o que é por que quando se trata de certas conveniências da vida, não é sempre fácil escutar o que é certo e errado, porque podemos não gostar das consequências, sabe? Para resumir, estes são alguns dos assuntos abordados no meu livro. E muito disso não é para ser um livro instrucional, mas um livro inspirador, ele deve levar o leitor em uma viagem de autodescoberta, e talvez a minha falação filosófica vá um pouco longe demais, isso não importa, mas talvez tenha outras coisas ali que sejam interessantes para você. Então o livro é sobre isso. É para servir de inspiração e para ter possíveis novos ângulos [de vista] e novos tipos de raciocínios.
ROBERTA: Isso é interessante, de verdade. Eu lembro que você mencionou algo como esse livro na entrevista de 2013, né Patrícia?
ULI: Sim, com certeza. Eu comecei a escrevê-lo em 2011, com intervalos e ele passou por várias fases. Eu quase terminei um em 2016 mas daí eu não gostei, porque eu não consegui encontrar o tom certo, tinha algo que não estava bom. A substância estava ali, mas para mim, era difícil achar o jeito certo de apresentá-la. E o novo, que eu escrevi durante [a pandemia do] Covid, é baseado nas versões antigas, mas foi completamente escrito do jeito novo e teve mais, como posso dizer… mais fluidez, mais como um filme. Os primeiros livros eram mais secos, tinham capítulos perfeitos, um, dois, três, quatro, e por aí vai. Eram muito bem organizados e eu pensei que não era bem isso que eu queria, porque eu não queria um livro que fosse um livro instrucional. Eu queria outra coisa, eu queria um livro inspirador, então o reescrevi completamente e isso só foi possível por causa [da pandemia]. Porque, de repente, eu tinha muito tempo e foi isso que eu fiz, sabe? Eu escrevi todos os dias, e fiz o layout sozinho, tipo todas as fotos, porque eu queria que fosse uma entidade só saindo de um lugar. Então você está certa, Roberta. Eu me lembro de quando eu estava no Brasil assim, eu também estava escrevendo muito sobre isso no quarto do hotel, no avião, eu escrevia constantemente. E não foi assim todos os anos. Eu muito mais em alguns anos, então eu tirava uma ano de folga desse assunto, e depois alguns anos de folga, e de repente, com [a pandemia] eu pensei “agora eu vou fazer isso” e foi isso.
ROBERTA: Certo. Você pensa em lançá-lo em breve ou ainda não tem ideia?
ULI: É, ele está pronto, só precisamos achar um jeito bom para publicá-lo, sabe. Eu tenho uma cópia impressa aqui, mas precisamos achar um bom jeito de lançá-lo para o público e vai ser nesse ano. Não sei bem quando.
DAVID: E você pensa em disponibilizá-lo apenas em inglês ou outras línguas, como o português?
ULI: Inicialmente será apenas em inglês e te digo que, quando se começa a traduzi-lo, é meio que um problema econômico, porque o livro é tão grande – é bem grande e precisa de uma qualidade excelente para a impressão. Se forem impressas apenas umas poucas cópias, cada uma custa US$400, só pela impressão. É preciso imprimir alguns milhares para que seja acessível para as pessoas. Agora, digamos que alguém traduza-o para o português, teríamos que imprimir vários milhares para que seja acessível, e isso é um problema porque não é um livro comercial. Não é como “O Que Sobra”, do [príncipe] Harry, (risos) é o oposto. Acho que algumas pessoas vão achar interessante e outras não. Mas definitivamente não é feito para o mercado de massa, não é para ser comercial. É para ser genuíno. Mas se você achar alguém que se dê ao trabalho de traduzir para o português e imprimir, fique à vontade, eu adoraria!
DAVID: Eu conheço alguém, né Patrícia?
ULI: É, mas provavelmente é bom você achar umas duas mil [pessoas], senão vocês teriam que pagar duzentos, quatrocentos dólares, se só uns poucos forem impressos. Se forem apenas algumas centenas, fica muito caro, ainda mais com qualidade boa. É a lei da economia, e não tem muita coisa que eu possa fazer pra mudar isso, sabe (risos). Se eu fosse um Bill Gates ou algo assim e tivesse esse tipo de dinheiro, eu mesmo faria as impressões e mandaria para todos os países, porque para mim, esse livro não é sobre ganhar dinheiro. Eu quero espalhar essas ideias e divulgá-las, então eu adoraria ter ele em português, espanhol e japonês. Mas por agora temos que nos contentar com a versão em inglês.
PATI: E Uli, você consideraria disponibilizar o livro como e-book? Talvez para que seja mais acessível para as pessoas ao redor do mundo?
ULI: Não. Te digo que o problema é porque o layout é como uma obra de arte, a cada duas páginas. Eu me certifiquei de que elas ficassem quase como um quadro, e eu não quero publicar sem a arte, ambos foram criados lado a lado. Eu escrevi o livro e ao mesmo tempo eu criei o layout então é um conjunto orgânico. Os [aplicativos] leitores de e-books são pateticamente ruins em reproduzir imagens. Eu não poderia infligir a ninguém pois diminuiria o potencial do livro. Eu mandei uma cópia para alguns amigos meus, inclusive para o David, mandei uma cópia em um link onde está o design final e ainda assim é difícil, mesmo se você tem uma tela de computador grande como eu, eu tenho um monitor de 75 polegadas na minha frente. É um sonho. É fantástico, dá pra ler tudo, mas até um tablet seria provavelmente muito pequeno para uma visualização de duas páginas. Você não vai conseguir ler direito e por isso eu acho que não é uma boa ideia fazer assim. Por mais que eu queira disseminar o livro, acho que ele perderia muito o potencial do seu impacto.
DAVID: Eu tenho uma foto aqui com o livro.
ULI: Bom, dá pra ver como é grande!
DAVID: Sim. Foi no Dierks Studios.
ULI: Mas você lembra como ele é pesado? Tem 3,4kg.
DAVID: Sim! É muito pesado.
ULI: (risos) É como uma bíblia!
PATI: Uau, estou ansiosa para ver! Espero que o David possa nos mostrar um dia. Vamos visitar o David em breve para poder ver o livro.
ULI: (risos) Não, não é dele. Isso foi no Dierks Studios, o Dieter tem uma cópia.
DAVID: É, não é meu.
PATI: Tá, vamos organizar uma viagem para visitar o Dieter, e daí vamos visitar você também, Uli. Aí você pode nos contar tudo – quem sabe você pode ler o livro para nós?
ULI: Isso levaria muito tempo, pode acreditar. (risos)
PATI: Vai ser toda uma turnê. Bom, mas mudando de assunto…
ULI: Vou te dizer uma coisa, Patrícia. Desculpa te interromper, mas enquanto estamos nisso, tem uma coisa que eu vou fazer na minha próxima turnê. Estamos planejando uma turnê chamada “Uma Noite Com Uli Jon Roth”. Basicamente é, bom, é uma noite com Uli Jon Roth, onde eu vou tocar mas também vou falar e vou abrir cada noite com o que chamamos de TED Talk, se você sabe o que é isso. Então eu vou falar sobre o livro, e vamos mostrar algumas páginas no telão. Então serão uns 20 ou 30 minutos falando sobre o livro, para dar a base. Então isso é o mais próximo que as pessoas irão chegar disso, mas como eu disse, o livro não se encaixa em nenhuma categoria já criada pelo homem, não vai ser muito fácil resumir ele em meia hora. Por agora, eu não tenho ideia de como vou fazer isso (risos). Vou precisar de muita inspiração e orientação para fazer isso. Enfim…
PATI: É um projeto enorme, com certeza.
ULI: É um projeto bem grande, sim (risos).
PATI: Mas o que eu queria perguntar era sobre seus planos mais recentes, para este mês, você tem o festival 70,000 Tons of Metal, certo? No final de janeiro. E eu queria saber, porque esse festival é bastante específico, onde todas as bandas, as equipes e os fãs estão juntos em um lugar. Você já fez isso antes e eu queria saber como essa experiência pode ser diferente dos festivais normais, já que todo mundo está, literalmente, no mesmo barco?
ULI: Essa vai ser a minha terceira vez, eu também participei do primeiro 70,000 Tons [Of Metal] que foi em 2011 e já fiz outros cruzeiros do tipo com o pessoal do Wacken. Como é o nome? Metal Cruise ou algo assim. E fizemos vários [cruzeiros] no Mediterrâneo, no Mar do Norte, até Oslo, Inglaterra, etc, etc, etc. Então estou bem acostumado com isso. Só tive boas experiências até agora. Normalmente são alguns dias muito agradáveis pelo mar. Sim, você está certa, todos estão almoçando ou jantando no restaurante, com as bandas e os fãs. No bar, você encontra os fãs, encontra outros músicos, sabe, você está ali curtindo. Tem outras sessões também, tem todos os tipos de coisas, e cada banda toca pelo menos dois ou três shows. Normalmente tem um show grande no deque com piscina, que, particularmente no Caribe, é de outro mundo, porque eu me lembro da primeira que fiz isso, foi um dos melhores shows que eu me lembro de já ter tocado porque foi no meio do dia e o deque da piscina estava cheio de gente, e o sol queimava, e o vento – tinha uma brisa bem forte. Foi simplesmente incrível, mágico. Eu nunca esquecerei isso, principalmente aquele primeiro show no 70,000 Tons. Eles normalmente tem um teatro bem grande com capacidade para mil pessoas, muito moderno, e cada banda toca um show no teatro. Várias vezes tem também um show como em uma casa noturna, que é um pouco menor. E por fim, mas não menos importante, pelo menos neste navio, eu também vou fazer uma coisa bem rápida no estilo da Sky Academy em um dos locais nos andares de cima, onde eu vou falar rapidamente sobre o livro e vou tocar algumas músicas que eu não toco com a banda. Só eu e o meu computador, e a tela. Então sim, estou ansioso. É muito bom poder dar uma escapada dessa época do ano deprimente, que não é a minha favorita [o inverno]. Pegar um pouco de sol em Miami e nas Bahamas? Não tem nada de errado com isso.
PATI: Sim, eu imagino que deve ser muito legal. Eu nunca fui ao 70,000 Ton of Metal, mas imagino que seja uma experiência muito especial para os fãs e as bandas.
ULI: Sim, Patrícia, acho que se nunca foi, é realmente algo que eu posso recomendar. E esse não é o único que existe. Também tem cruzeiros do Monsters of Rock, o pessoal do Wacken está fazendo cruzeiros. Tipo, todos são muito similares. Acho que a diferença é para onde vão. O 70,000 Tons é sempre no Caribe. O primeiro que eu me lembro foi em uma ilha no México, claro. O Caribe, claro, é simplesmente incrível, eu adoro lá. Não sei se eu gostaria de morar lá, mas é muito bom. Mas também, eu estou falando com pessoas que moram no Brasil, não de onde os invernos são deprimentes como aqui no Reino Unido. Vocês provavelmente nem sabem a diferença porque o sol sempre brilha em São Paulo, no Rio (risos)... não é?
PATI: Mais ainda em Salvador, na Bahia.
ULI: É onde o David está?
PATI: É sempre verão onde o David mora.
ULI: Ok, bom, na verdade não sei se eu sempre iria querer verão. Eu gosto das estações na Europa, mas quando o inverno fica… Sei lá, quando os dias são curtos e está sempre escuro e chuvoso, sabe? Não é a minha praia. (risos)
LARISSA: Recentemente você trabalhou novamente no Dierks Studios, depois de muitos anos, e gostaríamos de saber como é a sua relação com o Dieter [Dierks] hoje em dia e se você tem planos para trabalhar com ele novamente.
ULI: Sim, temos uma relação ótima. É sempre um prazer estar lá. Não trabalhávamos juntos há tantos anos e aí chegou em um ponto em que eu estava planejando um projeto bem grande, chamado The Alpha Experience, que vai acontecer este ano, e é um trabalho com orquestras, músicos de rock e cantores de ópera e de rock. E eu senti que eu não queria ser o produtor disso, eu queria que alguém me ajudasse com isso. Eu tive a oportunidade de encontrar o Dieter, quase que por acaso, porque fizemos um show lá, que ele não organizou, foi outra pessoa que organizou, mas nos demos tão bem, então eu tive essa ideia, por que não chamar o Dieter? Pois, claro, ele é um produtor de primeira categoria, e certamente ele dá contribuições valiosas, e ele escuta coisas que eu não escuto. O ouvido dele é diferente, sabe, e o que ele diz sempre faz sentido, porque tem pessoas que quando abrem a boca para falar de música, talvez não seja na mesma frequência que você, e você não gostaria de trabalhar com essa pessoa, mas o Dieter sempre vai lhe dar ótimos conselhos relacionados a música porque ele tem um ouvido muito musical, e ele simplesmente é um ótimo produtor, sabe? Então é por isso que eu convidei o Dieter. E a primeira coisa que estamos fazendo juntos é basicamente a última faixa que fizemos juntos anos atrás quando eu deixei o Scorpions, que é Sails of Charon. Porque eu compus um grande arranjo orquestral que tem uns 15 minutos, e o início é idêntico ao original, mas depois ele vai por uma área completamente nova, e eu comecei a gravar isso recentemente no estúdio do Dieter. Eu gravei a guitarra base e já está quase tudo pronto. Ainda vamos gravar a orquestra, e espero terminar logo depois.
Dieter Dierks e Uli Jon Roth, nos Dierks Studios.
DAVID: E falando sobre outro projeto, alguns anos atrás, você voltou ao Sun Plaza Hall em Tóquio e fez um show muito especial com o Rudolf Schenker e o Rudy Lenners. Você tem planos para lançar esse material?
ULI: Sim. Não tenho planos concretos no momento. Está tudo no computador, nós gravamos tudo. Eu fiquei satisfeito com as partes do show em que o Rudolf tocou, mas tiveram umas músicas antes no programa e eu não fiquei satisfeito com o resultado dessas, então eu não sei como lançar isso. Não sei se eu quero lançar tudo como está, ou se eu quero editar. Seja o que for, é um trabalho intenso, não é algo que eu consiga fazer em cinco minutos. Então, no momento, isso não é um problema. Uma resposta curta, para variar.
Uli Jon Roth e Rudolf Schenker no Sun Plaza Hall, Tóquio, 2019.
DAVID: Muitos anos atrás, em outubro de 1979, com o Electric Sun, você tocou duas vezes em uma prisão na Alemanha, em Colônia. Acho que foi na Klingelpütz. O que você achou disso? Você achou diferente? Talvez divertido? Foi o lugar mais estranho para se apresentar?
ULI: É, certamente foi diferente. Eu nunca havia tocado em uma prisão antes. Na verdade, é uma prisão bem famosa, não sei se é no centro de Colônia. E eu acho que isso aconteceu por conta de um locutor de rádio da Rádio Luxemburgo. Não tenho certeza mais se foi essa rádio, foi algo assim. Nós fizemos dois shows naquela noite, um para as mulheres, e um para os homens. Eles estavam separados, não me pergunte por que, mas talvez por motivos óbvios. Mas foi, com certeza, algo que não se esquece, sabe. Foi meio estranho e eu lembro de tirar fotos. Também entramos em algumas celas com os presidiários, foi sinistro. A única vez que tocamos em uma prisão. Falamos sobre tocar em Alcatraz em algum momento, but isso nunca aconteceu, até agora. Por que você fez essa pergunta?
DAVID: Só curiosidade (risos).
LARISSA: Ainda no assunto de Scorpions, Uli; uma vez você disse que foi um erro não ter feito a turnê americana antes de sair do Scorpions, então o que você acha que teria sido diferente se fosse tivesse feito essa turnê com a banda?
ULI: Bom, eu acho que foi um erro estratégico, da minha perspectiva. Pois quando eu fui para a América, e isso foi em 1985, não é que eu tenha tido que começar do zero, nós lotamos os shows, mas eu acho que minha carreira solo teria sido mais fácil se eu tivesse ficado no Scorpions para a primeira turnê americana, porque essa turnê já estava na mesa na época do Tokyo Tapes, e o Klaus e o Rudolf tentaram me convencer e eu disse não porque eu queria fazer o Electric Sun. Naquela época eu senti que era a decisão certa para mim, mas depois eu percebi que a minha vida teria sido muito mais fácil se eu tivesse ficado para mais uma turnê, talvez mais um álbum com a [gravadora] EMI. Mas as coisas são como são.
PATI: Nós temos mais uma pergunta para você, Uli, e vamos encerrando a entrevista. Não sei se você sabe, mas eu trabalhei na tradução do livro do David, O Outro Lado do Show.
ULI: Ahh, foi você. Eu pensei que ele tivesse escrito em inglês. Então ele escreveu em Português.
PATI: Sim, e eu fiz a versão em inglês do livro.
ULI: Certo. Então foi você. David, você trapaceou. Eu pensei que o seu inglês tivesse melhorado tanto.
PATI: Não, ele não trapaceou. Ele não trapaceou. Ele é um bom chefe, Ele é meu chefe agora.
DAVID: Não, não, não. A Patrícia é professora de inglês, [o livro] estava em boas mãos.
ULI: Muito bem. E qual é a pergunta?
PATI: Ele foi meu chefe por uns dois anos na verdade.
ROBERTA: Ah, meu também.
PATI: Bom, eu me lembro de quando eu estava traduzindo o livro do David, O Outro Lado do Show, tinha várias histórias sobre você e muitas se passaram no Brasil, quando o David trabalhou com você. Então eu gostaria de saber quais são as lembranças que você tem aqui do país e se tem alguma coisa que você ainda gostaria de viver no Brasil?
ULI: Eu tive muitos pontos altos no Brasil. Eu sempre gostei de estar no seu país e adoro o público, plateias lindas todas as noites. Onde quer que você vá. E isso faz uma grande diferença, sabe. Subir até a estátua de Jesus, para todos nós foi uma experiência realmente incrível e eu adoraria ir lá de novo, Toda aquela energia, e a vista, acho que eu nunca tinha visto uma vista tão bonita como aquela. São Paulo é bem diferente, mas eu caminhei muito pela cidade também, pois eu gosto de dar longas caminhadas durante o dia quando estou em turnê. E tem um parque.. Qual é aquela cidade que fica no centro, David?
DAVID: Goiânia.
ULI: Exatamente. Eu sempre caminho naquele parque. Tem um parque no meio da cidade e é bem mágico. Tem um lago grande com peixes grandes e tartarugas. Eu gosto de caminhar por lá.
DAVID: Mas você nunca esteve em Manaus, né? Na Amazônia.
ULI: Não, não, não, não. Eu adoraria ir lá, para ver o que sobrou da Amazônia. Espero que isso pare agora. Estamos tão preocupados com isso, que mais e mais tem sido desmatado a cada ano. Mas eu espero que isso pare, isso vai parar agora?
PATI: Sim, existem planos para que isso pare o quanto antes.
ULI: Por favor. Sim, por favor.
PATI: Não sei se você viu, mas ontem tivemos algumas novas ministras tomando posse. Uma delas é indígena.
ULI: Sim, isso é muito animador, e é ótimo. Vamos torcer para que seja um novo começo, porque a Amazônia não é importante apenas para o Brasil, mas para o mundo inteiro. Se perdemos isso, vamos perder tudo. Cada árvore importa e precisa ficar em pé, cada uma das árvores, porque quando elas se forem, será impossível que elas cresçam de novo, e todos os animais que tem lá, sabe? Bom, eu não preciso falar isso para vocês, vocês sabem. Mas então, eu adoraria ir lá. Nós tocamos apenas em algumas cidades. Tocamos em Curitiba, e você estava lá [David]. Foi legal também. Mas eu gostaria de visitar muito, muito mais do seu país. O problema é que a situação econômica na América do Sul é muito difícil, os produtores normalmente só contratam shows grandes, mas as turnês menores são difíceis de custear. E é por isso que não tocamos tão frequentemente aí. Se fosse mais fácil, eu iria todos os anos, eu tocaria todos os anos como eu faço na Europa, mas o seu país e América do Sul são tão grandes, que para todos os shows é necessário um avião para chegar aí. Quando nós tocamos na Alemanha, França, Inglaterra, nós viajamos de carro ou de ônibus e é fácil, mas não dá para fazer isso na América do Sul, é um grande problema de logística. Mas agora temos uma turnê marcada na América do Norte para este ano, em Setembro, e vai ser legal. Vamos ver se há potencial para voltarmos ao seu país para alguns shows também, mas até agora nada está certo. Sei que existe um interesse aí, então vamos parar por aqui. Dedos cruzados. Eu adoraria voltar.
DAVID: Quem sabe? Quem sabe você toca em Manaus e Salvador da próxima vez.
ULI: Sim. Uau, David, faça isso acontecer.
DAVID: Não sei. Mas acho que as coisas irão melhorar, quem sabe nos próximos anos.
ULI: Que bom, que bom, que bom.. É um novo começo e uma sombra se levantou e a escuridão irá recuar. Já consigo perceber isso. Mas, sabe, é importante que todos sejam otimistas e que saiam desse vale para o sol de novo – o outro sol, não o sol real, esse vocês sempre têm.
PATI: Estamos muito ansiosos.
ULI: É, ótimo.
PATI: Tá certo Uli, é isso.
ULI: Então obrigado pelas perguntas, e desculpe ser tão explícito com a questão do livro. É difícil explicar em poucas palavras. Aliás, eu ainda não achei uma forma de fazer isso. Talvez se eu fizer mais entrevistas eu consiga resumir em uma frase, sabe. Tipo, é assim e pronto, ou algo do tipo. (risos)
PATI: Mas nós realmente agradecemos você por ser tão minucioso e nos dar tanta informação. É como a Roberta disse, nós sabemos que você tem trabalhado nesse livro há tanto tempo, então obviamente não deve ser simples falar sobre isso.
DAVID: Obrigado, Uli. Espero ver você no domingo. Vou tentar correr e chegar em casa a tempo. Obrigado Roberta e Larissa.
ULI: Até mais!
PATI: Sim. Então você tem tido sessões no Zoom com pessoas. É mais como um bate-papo? Uma conversa livre? Além disso, será oferecido mais alguma coisa?
ULI: É um pouco de tudo. Bom, é realmente legal poder falar com todos num lugar só, sabe. Alguns estão em Tóquio, alguns em Osaka, Cingapura, São Paulo, Hamburgo e Inglaterra. Então isso é legal. E muitos dos que estão no Patreon, eu os conheço há muito tempo. Alguns deles são meus amigos próximos, também estão lá. E então estamos conversando, eles estão fazendo perguntas, e também tem alguns tópicos, sabe. Da última vez também toquei um pouco de guitarra. É isso que está se desenvolvendo agora. Na verdade, vamos abrir um novo nível no Patreon especialmente para guitarristas, porque muitos de meus fãs são guitarristas e há muito interesse. E alguns deles são bem bons ou até mesmo muito bons guitarristas. Na verdade, no nosso canal do Patreon, acho que pelo menos 13 ou 14 pessoas possuem guitarras Sky, então faz sentido. Vamos fazer oficinas dedicadas no Patreon, como uma vez por mês. Eu vou sentar por cerca de uma hora com a guitarra e é basicamente como uma masterclass online onde eu estou demonstrando meus... digamos, meus principais leads de guitarra, começando pelos Scorpions até Electric Sun e então... todas esses leads de guitarra que me levaram de um nível ao outro, pois é como uma história escrita nos álbuns. As técnicas de guitarra, elas se desenvolveram ao longo dos anos a partir do Fly To The Rainbow passando pelo In Trance, pelo Electric Sun e então mais avançadas em Sky of Avalon, culminando no Metamorphosis; e então vou pegar os solos de guitarra mais importantes e desconstruí-los e realmente demonstrar como é feito, e também vou enviar algumas partituras e uns fundos musicais para que eles possam trabalhar na música eles mesmos, e também lhes dará a oportunidade de tocar algo na frente da câmera. E então eu darei minha opinião e darei alguns conselhos, talvez sobre o que pode ser melhorado, etc. Então isso começará muito em breve. Eu vou explicar mais sobre isso na próxima reunião no Zoom.
Uli em chamada de vídeo para o Patreon.
www.patreon.com/ujr
PATI: Certo.
LARI: Uli, você sempre encontra formas de se aproximar dos fãs, seja com o Patreon ou com meet and greets, e eu gostaria de saber, como um artista, o que você aprende com o seu público nesses encontros?
ULI: Na verdade, eu estou aprendendo muito (risos), porque é importante para mim que eu me comunique com…Bom, primeiramente, eu adoro me comunicar com as pessoas, ponto final. Vou dizer do que eu não gosto, é aí que eu tive um problema com várias redes sociais. Eu não gosto quando é uma coisa superficial e não-real, sabe, encontros superficiais. Ok, não tenho problema com conversa fiada, mas na verdade, eu acabo achando isso meio entediante. Então eu gosto de me comunicar individualmente com as pessoas, então nos meet and greets ou nesses encontros do Patreon, onde as pessoas podem escrever suas perguntas e eu vou entrar lá e tentar entender o que as pessoas estão dizendo porque isso é muito importante para mim. Porque, como artista, é tudo sobre uma ressonância,sabe? Eu não estou fazendo isso só por mim, não é uma coisa sobre autogratificação. Claro, um pouco disso é porque eu amo o que faço, mas se não houvesse um público, então não faria sentido. É quase como caçar uma borboleta - não que eu jamais fosse caçar uma borboleta, mas no sentido figurado, ir até o jardim e capturar uma borboleta linda, e levá-la para casa. Eu vou querer mostrá-la para os meus amigos, certo? Se eu a capturasse só para mim, seria legal, mas seria melhor se eu compartilhasse com outras pessoas. O mesmo acontece com a música. Ou se eu tenho uma ideia ótima, eu quero compartilhar com um público, porque esse é o meu trabalho, e essa é a minha vocação. Eu sou uma pessoa que sai à procura de borboletas e as traz para compartilhar com as pessoas, e os tipos de borboletas que eu encontro são, provavelmente diferentes das que outro artista encontra, sabe? E algumas pessoas preferem as minhas borboletas. E todos os tipos de borboletas que eu trago, eu as apresento, ou algo do tipo. Então eu acho que é sobre ressonância, sabe. E o meet and greet me dá uma boa noção de reflexão, porque às vezes as pessoas apenas dizem umas poucas palavras e não se consegue tanta informação, mas às vezes elas me contam uma história e isso tem valor para mim. Também é legal ver que algumas coisas que demos duro no estúdio ressoam com as pessoas e tem um significado para alguém, sabe. Acho que é como uma via-dupla.
LARI: Eu tenho outra pergunta e acho que é a continuação perfeita para o que estamos falando, então desculpa, gente, por estar bagunçando a ordem mas… Você acabou de dizer como é importante compartilhar e como a música deve ser compartilhada. Contudo, eu imagino como você encontra um equilíbrio nisso, pois quando você decidiu deixar os Scorpions e começar o Electric Sun, acho que a maioria do seu público ficou um pouco decepcionado ou surpreso com o rumo do novo som. Então como você encontra o equilíbrio perfeito entre a sua paixão artística e os fãs também?
ULI: É verdade. Quando eu deixei Scorpions, muitas pessoas esperavam que eu fizesse basicamente mais como Virgin Killer ou Sails of Charon, e coisas assim. Então principalmente o primeiro [álbum], Earthquake, era completamente – bom, não completamente, era de algumas formas quase o oposto, e levou tempo, o álbum recebeu mais reconhecimento nos anos seguintes porque as pessoas não o comparavam mais com os Scorpions, mas no início isso foi um problema. É sempre um problema quando você está se desenvolvendo como artista, principalmente quando você está expandindo o seu repertório, a sua linguagem e formas de expressão. É uma coisa muito humana que todos temos tendência a ter certas expectativas. Sabe, se eu for comer algo em uma pizzaria, eu espero comer pizza, certo? Ou um espaguete italiano, etc. Eu ficaria surpreso em ver um chow mein no cardápio. Então se os Scorpions fazem um tipo de coisa, e os fãs amam isso, tudo bem, amamos esse tipo de música. Agora se um dos integrantes principais, ele sai e ele… Ele abre um outro restaurante e não tem pizza dos Scorpions, mas de repente tem… Bom, eu não sei qual a comida típica do seu país, do Brasil, mas você sabe o que eu quero dizer. Basicamente não se satisfez a expectativa que existia. Então essa é uma parte da resposta. Tudo está relacionado às expectativas. Mas anos depois, quantos as expectativas são esquecidas, e a pessoas forem ao meu restaurante de novo, talvez elas digam “não é a pizza dos Scorpions, mas é algo bem diferente, e se não esperamos pizza, talvez não seja tão ruim.” e vejam as coisas como elas são. E foi exatamente isso que aconteceu com o meu período no Electric Sun, algumas pessoas começaram a aceitar depois de um tempo porque elas perceberam “ah, isso não é Scorpions, é algo completamente diferente.” E veja bem, como artista, quando você começa a crescer e a ir a lugares que você nunca foi antes, e você traz diversos tipos de borboletas e flores lindas, ou seja o que for, você só consegue trazer o que encontrar, sabe. Basicamente, eu fui verdadeiro [comigo mesmo], foi isso que eu fiz. Eu queria ir a certos lugares, e alguns do público me seguiram, acharam legal as coisas que eu estava encontrando, mas de novo, não eram as mesmas borboletas que você encontraria no zoológico ou no jardim do Scorpions. Só isso, sabe. Eu tenho que ser fiel a mim mesmo. Aliás, eu não sei como ser diferente porque se eu tentar fazer algo apenas para agradar o público, acho que seria um tiro pela culatra pois eu nem saberia como fazer isso. O único motivo de eu ter o mínimo de sucesso é porque eu sempre segui os meus instintos, e às vezes isso me leva a lugares com os quais as pessoas se identificam, e às vezes me leva a lugares com os quais menos pessoas ou ninguém se identifica. Eu tenho que ir a esses lugares de qualquer jeito. É o meu trabalho como um desbravador, assim por dizer. Então às vezes eu vou abrir uma porta onde muitos irão se identificar, e às vezes eu vou pisar em um outro jardim, e as pessoas não vão querer ir lá. Mas talvez depois de cinquenta anos elas queiram. Acontece. Às vezes não é o momento certo para certas ideias, porque… Tem uma coisa na Alemanha que chamamos de zeitgeist, que significa o espírito do tempo em que vivemos, e muitas pessoas se conectam a isso, principalmente quando são jovens, e depois elas parecem se transformarem mais nelas mesmas e não tão comprometidas com o zeitgeist que elas conhecem. E eu sou uma pessoa muito ciente desse zeitgeist, mas também gosto de fugir um pouco disso e ir além. E às vezes eu vou muito no futuro, às vezes muito no passado, mas ambos podem ser muito interessantes, sabe? Bom, dá pra falar sobre isso por horas, é um assunto muito interessante para mim. Isso responde a sua pergunta ou foi só uma grande viagem?
LARISSA: Responde sim.
ROBERTA: Você acabou de escrever um livro, certo? Como você o classifica? Você fala sobre essas coisas no livro ou é mais sobre música, ou uma biografia?
ULI: Vou dizer uma coisa, esse livro é impossível de classificar (risos). Ele não se encaixa em nenhuma categoria. Ele é muitas coisas. São mais ou menos 650 páginas e tem cerca de mil fotografias, desenhos e diagramas. É uma mistura de muitas coisas. Mas tem um fio por trás do livro, e não é autobiográfico, então não é nem um pouco sobre mim, Uli Jon Roth, mas saiu de mim. É o resultado das minhas experiências pessoais na vida e, principalmente, é a soma da minha filosofia de vida, se quiser chamar assim. Como as coisas que eu considero importantes com relação à essência do que encontrei ou tive como experiência, sabe? E eu tentei colocar isso em palavras, e acabou se tornando uma bela história. É um pouco como…Um pouco como um filme, sabe? Tem histórias dentro de histórias e ele transita por muitos assuntos diferentes.
DAVID: Uli, talvez você possa classificá-lo como “a mente de Uli”.
ULI: É o que estou fazendo, David. No centro dele, está a minha forma de ver a música e eu descobri que isso é algo que me fascina desde que eu comecei com a música, e na…Eu não quero chamar isso de teoria musical, mas no coração da música, que consiste de muitas coisas diferentes, harmonia, ritmo, melodia e muitas outras coisas, há certas leis que governam a música, que fazem da música o que ela é. E eu descobri que essas leis são basicamente as mesmas leis – elas são virtualmente idênticas às leis que governam basicamente tudo, as nossas vidas, nós mesmos, nossas mentes, nossos espíritos, e até mesmo nossos corpos. As leis da música podem ser encontradas em tudo, elas são as mesmas leis da matemática, ciência… E mesmo isso parecendo uma bagunça, eu tentei esclarecer isso, e destrinchei os componentes fundamentais, começando pelas frequências e por que certas frequência, certas notas e certas imagens tem sentido diferente, e um conjunto de energias diferente que as outras. Para ser mais específico, no sistema musical ocidental, temos 12 notas e essas 12 notas são como 12 cores de um arco-íris, e cada uma dessas notas tem suas características conectadas e que são ativadas quando uma nota é tocada. Isso é uma das coisas. Essas são as matérias-primas da construção, mas fica mais interessante ainda quando você vê a combinação disso. O que acontece quando duas notas interagem juntas, ou três em harmonia? O que acontece e por que isso acontece? E por que isso nos afeta tão profundamente? Por que certos acordes nos afetam de uma maneira mas certos acordes nos afetam de outra maneira? Por que certos ritmos fazem o que fazem? E por que existem ritmos? Isso vai longe e eu, no livro, eu passo bastante tempo analisando essas coisas e organizando uma certa estrutura tentando explicar o melhor que eu posso também para não-músicos, pois essa é a parte difícil. Algumas coisas têm termos musicais como as oitavas. Não é muito fácil explicar uma oitava para alguém que não toca um instrumento. Qualquer pessoa que toca um instrumento vai dizer “claro, isso é uma oitava, tem uma terça maior, uma terça menor," mas eu acho difícil explicar isso para quem não é músico. Mas essas coisas como oitavas, fenômenos, terça maior, trítonos, são de conceitos de importância fundamental que vão muito além da música. Então eu tentei mostrar a importância dessas coisas e como algo como um trítono, que é basicamente a combinação de duas notas opostas sendo tocadas juntas ou sucessivamente, como isso pode aparecer na vida real entre as pessoas. Porque as pessoas, para mim, também são como instrumentos musicais, e todos nós extraímos certas energias que, no fim, quando destrinchadas, não são nada mais do que exalações e manifestações musicais. Então isso é uma das muitas formas de ver o mundo com o olhar da música, e eu acho isso fascinante. Esse é o pontapé inicial do livro, mas isso se dividindo em vertentes diferentes. Eu dedico muito tempo no livro à mente humana, como a nossa mente interpreta certas coisas e por que é assim. Um objetivo principal, e que pode ser interessante para todos nós, ou para muitas pessoas, é como podemos utilizar esse conhecimento metafísico da música para aprimorar nossa funções cognitivas; basicamente como podemos crescer eventualmente com o objetivo de até nos tornarmos pessoas melhores, sabe:? Não só aprendermos a tecnicamente nos adaptar melhor a ver coisas, compreender coisas, mas também encontrar formas de finalmente entender o que é certo e o que é errado. Essa é uma das perguntas-chave que eu sempre volto [a perguntar] nesse livro. Porque hoje em dia muitas pessoas dizem que não existe certo ou errado, tudo é relativo, e até certo ponto, e de certo ponto de vista, esse é o caso. Mas para mim, a música me ensina algo completamente diferente. Me ensina que existe um certo e errado absoluto. E a música é muito simples. Você só precisa de um violão, seis cordas; você toca uma corda, ela soa perfeitamente afinada. Uma das cordas você afina um pouco para cima ou para baixo, e imediatamente o violão inteiro está desafinado, com um pequeno ingrediente errado. Agora se você sabe exatamente qual corda e afiná-la de novo, essa é a sua resposta. Só existe uma forma de afinar perfeitamente aquele violão. Existem milhões de formas de desafiná-lo, e essa é a grande diferença. Para mim, toda pergunta tem uma resposta perfeita, e o fato de normalmente não sabermos qual é não significa que a resposta não exista, sabe? E uma resposta perfeita é difícil de achar, mas a música nos ensina como chegar à resposta perfeita. Basicamente, o que estou dizendo é que existe uma verdade universal, como uma verdade fundamental, uma verdade do universo, uma verdade maior do que “isso é certo e isso é errado”, e existe a verdade relativa, que temos aqui na Terra, Como no Brasil, vocês têm certas leis e quem sabe alguém rouba um carro, essa pessoas vai para a prisão por sei lá quanto tempo. Na Alemanha talvez seja completamente diferente; no Taleban essa pessoa provavelmente seria morta imediatamente. Então essas leis são leis humanas, são relativas, mas isso não quer dizer que qualquer uma delas seja fundamentalmente certa. Eu tenho interesse em descobrir a verdade maior, e pode parecer uma grande besteira, mas eu acredito que a verdade maior exista, e o que é mais fascinante ainda, é que eu acho que somos perfeitamente capazes de descobrirmos sozinhos, pois cada pessoa tem uma conexão profunda com o que é certo e errado, está na nossa consciência, é muito, muito profundo, mas todos sabemos o que é certo e errado no fim, mas às vezes é difícil escutar e entender o que é por que quando se trata de certas conveniências da vida, não é sempre fácil escutar o que é certo e errado, porque podemos não gostar das consequências, sabe? Para resumir, estes são alguns dos assuntos abordados no meu livro. E muito disso não é para ser um livro instrucional, mas um livro inspirador, ele deve levar o leitor em uma viagem de autodescoberta, e talvez a minha falação filosófica vá um pouco longe demais, isso não importa, mas talvez tenha outras coisas ali que sejam interessantes para você. Então o livro é sobre isso. É para servir de inspiração e para ter possíveis novos ângulos [de vista] e novos tipos de raciocínios.
ROBERTA: Isso é interessante, de verdade. Eu lembro que você mencionou algo como esse livro na entrevista de 2013, né Patrícia?
ULI: Sim, com certeza. Eu comecei a escrevê-lo em 2011, com intervalos e ele passou por várias fases. Eu quase terminei um em 2016 mas daí eu não gostei, porque eu não consegui encontrar o tom certo, tinha algo que não estava bom. A substância estava ali, mas para mim, era difícil achar o jeito certo de apresentá-la. E o novo, que eu escrevi durante [a pandemia do] Covid, é baseado nas versões antigas, mas foi completamente escrito do jeito novo e teve mais, como posso dizer… mais fluidez, mais como um filme. Os primeiros livros eram mais secos, tinham capítulos perfeitos, um, dois, três, quatro, e por aí vai. Eram muito bem organizados e eu pensei que não era bem isso que eu queria, porque eu não queria um livro que fosse um livro instrucional. Eu queria outra coisa, eu queria um livro inspirador, então o reescrevi completamente e isso só foi possível por causa [da pandemia]. Porque, de repente, eu tinha muito tempo e foi isso que eu fiz, sabe? Eu escrevi todos os dias, e fiz o layout sozinho, tipo todas as fotos, porque eu queria que fosse uma entidade só saindo de um lugar. Então você está certa, Roberta. Eu me lembro de quando eu estava no Brasil assim, eu também estava escrevendo muito sobre isso no quarto do hotel, no avião, eu escrevia constantemente. E não foi assim todos os anos. Eu muito mais em alguns anos, então eu tirava uma ano de folga desse assunto, e depois alguns anos de folga, e de repente, com [a pandemia] eu pensei “agora eu vou fazer isso” e foi isso.
ROBERTA: Certo. Você pensa em lançá-lo em breve ou ainda não tem ideia?
ULI: É, ele está pronto, só precisamos achar um jeito bom para publicá-lo, sabe. Eu tenho uma cópia impressa aqui, mas precisamos achar um bom jeito de lançá-lo para o público e vai ser nesse ano. Não sei bem quando.
DAVID: E você pensa em disponibilizá-lo apenas em inglês ou outras línguas, como o português?
ULI: Inicialmente será apenas em inglês e te digo que, quando se começa a traduzi-lo, é meio que um problema econômico, porque o livro é tão grande – é bem grande e precisa de uma qualidade excelente para a impressão. Se forem impressas apenas umas poucas cópias, cada uma custa US$400, só pela impressão. É preciso imprimir alguns milhares para que seja acessível para as pessoas. Agora, digamos que alguém traduza-o para o português, teríamos que imprimir vários milhares para que seja acessível, e isso é um problema porque não é um livro comercial. Não é como “O Que Sobra”, do [príncipe] Harry, (risos) é o oposto. Acho que algumas pessoas vão achar interessante e outras não. Mas definitivamente não é feito para o mercado de massa, não é para ser comercial. É para ser genuíno. Mas se você achar alguém que se dê ao trabalho de traduzir para o português e imprimir, fique à vontade, eu adoraria!
DAVID: Eu conheço alguém, né Patrícia?
ULI: É, mas provavelmente é bom você achar umas duas mil [pessoas], senão vocês teriam que pagar duzentos, quatrocentos dólares, se só uns poucos forem impressos. Se forem apenas algumas centenas, fica muito caro, ainda mais com qualidade boa. É a lei da economia, e não tem muita coisa que eu possa fazer pra mudar isso, sabe (risos). Se eu fosse um Bill Gates ou algo assim e tivesse esse tipo de dinheiro, eu mesmo faria as impressões e mandaria para todos os países, porque para mim, esse livro não é sobre ganhar dinheiro. Eu quero espalhar essas ideias e divulgá-las, então eu adoraria ter ele em português, espanhol e japonês. Mas por agora temos que nos contentar com a versão em inglês.
PATI: E Uli, você consideraria disponibilizar o livro como e-book? Talvez para que seja mais acessível para as pessoas ao redor do mundo?
ULI: Não. Te digo que o problema é porque o layout é como uma obra de arte, a cada duas páginas. Eu me certifiquei de que elas ficassem quase como um quadro, e eu não quero publicar sem a arte, ambos foram criados lado a lado. Eu escrevi o livro e ao mesmo tempo eu criei o layout então é um conjunto orgânico. Os [aplicativos] leitores de e-books são pateticamente ruins em reproduzir imagens. Eu não poderia infligir a ninguém pois diminuiria o potencial do livro. Eu mandei uma cópia para alguns amigos meus, inclusive para o David, mandei uma cópia em um link onde está o design final e ainda assim é difícil, mesmo se você tem uma tela de computador grande como eu, eu tenho um monitor de 75 polegadas na minha frente. É um sonho. É fantástico, dá pra ler tudo, mas até um tablet seria provavelmente muito pequeno para uma visualização de duas páginas. Você não vai conseguir ler direito e por isso eu acho que não é uma boa ideia fazer assim. Por mais que eu queira disseminar o livro, acho que ele perderia muito o potencial do seu impacto.
DAVID: Eu tenho uma foto aqui com o livro.
ULI: Bom, dá pra ver como é grande!
DAVID: Sim. Foi no Dierks Studios.
ULI: Mas você lembra como ele é pesado? Tem 3,4kg.
DAVID: Sim! É muito pesado.
ULI: (risos) É como uma bíblia!
PATI: Uau, estou ansiosa para ver! Espero que o David possa nos mostrar um dia. Vamos visitar o David em breve para poder ver o livro.
ULI: (risos) Não, não é dele. Isso foi no Dierks Studios, o Dieter tem uma cópia.
DAVID: É, não é meu.
PATI: Tá, vamos organizar uma viagem para visitar o Dieter, e daí vamos visitar você também, Uli. Aí você pode nos contar tudo – quem sabe você pode ler o livro para nós?
ULI: Isso levaria muito tempo, pode acreditar. (risos)
PATI: Vai ser toda uma turnê. Bom, mas mudando de assunto…
ULI: Vou te dizer uma coisa, Patrícia. Desculpa te interromper, mas enquanto estamos nisso, tem uma coisa que eu vou fazer na minha próxima turnê. Estamos planejando uma turnê chamada “Uma Noite Com Uli Jon Roth”. Basicamente é, bom, é uma noite com Uli Jon Roth, onde eu vou tocar mas também vou falar e vou abrir cada noite com o que chamamos de TED Talk, se você sabe o que é isso. Então eu vou falar sobre o livro, e vamos mostrar algumas páginas no telão. Então serão uns 20 ou 30 minutos falando sobre o livro, para dar a base. Então isso é o mais próximo que as pessoas irão chegar disso, mas como eu disse, o livro não se encaixa em nenhuma categoria já criada pelo homem, não vai ser muito fácil resumir ele em meia hora. Por agora, eu não tenho ideia de como vou fazer isso (risos). Vou precisar de muita inspiração e orientação para fazer isso. Enfim…
PATI: É um projeto enorme, com certeza.
ULI: É um projeto bem grande, sim (risos).
PATI: Mas o que eu queria perguntar era sobre seus planos mais recentes, para este mês, você tem o festival 70,000 Tons of Metal, certo? No final de janeiro. E eu queria saber, porque esse festival é bastante específico, onde todas as bandas, as equipes e os fãs estão juntos em um lugar. Você já fez isso antes e eu queria saber como essa experiência pode ser diferente dos festivais normais, já que todo mundo está, literalmente, no mesmo barco?
ULI: Essa vai ser a minha terceira vez, eu também participei do primeiro 70,000 Tons [Of Metal] que foi em 2011 e já fiz outros cruzeiros do tipo com o pessoal do Wacken. Como é o nome? Metal Cruise ou algo assim. E fizemos vários [cruzeiros] no Mediterrâneo, no Mar do Norte, até Oslo, Inglaterra, etc, etc, etc. Então estou bem acostumado com isso. Só tive boas experiências até agora. Normalmente são alguns dias muito agradáveis pelo mar. Sim, você está certa, todos estão almoçando ou jantando no restaurante, com as bandas e os fãs. No bar, você encontra os fãs, encontra outros músicos, sabe, você está ali curtindo. Tem outras sessões também, tem todos os tipos de coisas, e cada banda toca pelo menos dois ou três shows. Normalmente tem um show grande no deque com piscina, que, particularmente no Caribe, é de outro mundo, porque eu me lembro da primeira que fiz isso, foi um dos melhores shows que eu me lembro de já ter tocado porque foi no meio do dia e o deque da piscina estava cheio de gente, e o sol queimava, e o vento – tinha uma brisa bem forte. Foi simplesmente incrível, mágico. Eu nunca esquecerei isso, principalmente aquele primeiro show no 70,000 Tons. Eles normalmente tem um teatro bem grande com capacidade para mil pessoas, muito moderno, e cada banda toca um show no teatro. Várias vezes tem também um show como em uma casa noturna, que é um pouco menor. E por fim, mas não menos importante, pelo menos neste navio, eu também vou fazer uma coisa bem rápida no estilo da Sky Academy em um dos locais nos andares de cima, onde eu vou falar rapidamente sobre o livro e vou tocar algumas músicas que eu não toco com a banda. Só eu e o meu computador, e a tela. Então sim, estou ansioso. É muito bom poder dar uma escapada dessa época do ano deprimente, que não é a minha favorita [o inverno]. Pegar um pouco de sol em Miami e nas Bahamas? Não tem nada de errado com isso.
PATI: Sim, eu imagino que deve ser muito legal. Eu nunca fui ao 70,000 Ton of Metal, mas imagino que seja uma experiência muito especial para os fãs e as bandas.
ULI: Sim, Patrícia, acho que se nunca foi, é realmente algo que eu posso recomendar. E esse não é o único que existe. Também tem cruzeiros do Monsters of Rock, o pessoal do Wacken está fazendo cruzeiros. Tipo, todos são muito similares. Acho que a diferença é para onde vão. O 70,000 Tons é sempre no Caribe. O primeiro que eu me lembro foi em uma ilha no México, claro. O Caribe, claro, é simplesmente incrível, eu adoro lá. Não sei se eu gostaria de morar lá, mas é muito bom. Mas também, eu estou falando com pessoas que moram no Brasil, não de onde os invernos são deprimentes como aqui no Reino Unido. Vocês provavelmente nem sabem a diferença porque o sol sempre brilha em São Paulo, no Rio (risos)... não é?
PATI: Mais ainda em Salvador, na Bahia.
ULI: É onde o David está?
PATI: É sempre verão onde o David mora.
ULI: Ok, bom, na verdade não sei se eu sempre iria querer verão. Eu gosto das estações na Europa, mas quando o inverno fica… Sei lá, quando os dias são curtos e está sempre escuro e chuvoso, sabe? Não é a minha praia. (risos)
LARISSA: Recentemente você trabalhou novamente no Dierks Studios, depois de muitos anos, e gostaríamos de saber como é a sua relação com o Dieter [Dierks] hoje em dia e se você tem planos para trabalhar com ele novamente.
ULI: Sim, temos uma relação ótima. É sempre um prazer estar lá. Não trabalhávamos juntos há tantos anos e aí chegou em um ponto em que eu estava planejando um projeto bem grande, chamado The Alpha Experience, que vai acontecer este ano, e é um trabalho com orquestras, músicos de rock e cantores de ópera e de rock. E eu senti que eu não queria ser o produtor disso, eu queria que alguém me ajudasse com isso. Eu tive a oportunidade de encontrar o Dieter, quase que por acaso, porque fizemos um show lá, que ele não organizou, foi outra pessoa que organizou, mas nos demos tão bem, então eu tive essa ideia, por que não chamar o Dieter? Pois, claro, ele é um produtor de primeira categoria, e certamente ele dá contribuições valiosas, e ele escuta coisas que eu não escuto. O ouvido dele é diferente, sabe, e o que ele diz sempre faz sentido, porque tem pessoas que quando abrem a boca para falar de música, talvez não seja na mesma frequência que você, e você não gostaria de trabalhar com essa pessoa, mas o Dieter sempre vai lhe dar ótimos conselhos relacionados a música porque ele tem um ouvido muito musical, e ele simplesmente é um ótimo produtor, sabe? Então é por isso que eu convidei o Dieter. E a primeira coisa que estamos fazendo juntos é basicamente a última faixa que fizemos juntos anos atrás quando eu deixei o Scorpions, que é Sails of Charon. Porque eu compus um grande arranjo orquestral que tem uns 15 minutos, e o início é idêntico ao original, mas depois ele vai por uma área completamente nova, e eu comecei a gravar isso recentemente no estúdio do Dieter. Eu gravei a guitarra base e já está quase tudo pronto. Ainda vamos gravar a orquestra, e espero terminar logo depois.
Dieter Dierks e Uli Jon Roth, nos Dierks Studios.
DAVID: E falando sobre outro projeto, alguns anos atrás, você voltou ao Sun Plaza Hall em Tóquio e fez um show muito especial com o Rudolf Schenker e o Rudy Lenners. Você tem planos para lançar esse material?
ULI: Sim. Não tenho planos concretos no momento. Está tudo no computador, nós gravamos tudo. Eu fiquei satisfeito com as partes do show em que o Rudolf tocou, mas tiveram umas músicas antes no programa e eu não fiquei satisfeito com o resultado dessas, então eu não sei como lançar isso. Não sei se eu quero lançar tudo como está, ou se eu quero editar. Seja o que for, é um trabalho intenso, não é algo que eu consiga fazer em cinco minutos. Então, no momento, isso não é um problema. Uma resposta curta, para variar.
Uli Jon Roth e Rudolf Schenker no Sun Plaza Hall, Tóquio, 2019.
DAVID: Muitos anos atrás, em outubro de 1979, com o Electric Sun, você tocou duas vezes em uma prisão na Alemanha, em Colônia. Acho que foi na Klingelpütz. O que você achou disso? Você achou diferente? Talvez divertido? Foi o lugar mais estranho para se apresentar?
ULI: É, certamente foi diferente. Eu nunca havia tocado em uma prisão antes. Na verdade, é uma prisão bem famosa, não sei se é no centro de Colônia. E eu acho que isso aconteceu por conta de um locutor de rádio da Rádio Luxemburgo. Não tenho certeza mais se foi essa rádio, foi algo assim. Nós fizemos dois shows naquela noite, um para as mulheres, e um para os homens. Eles estavam separados, não me pergunte por que, mas talvez por motivos óbvios. Mas foi, com certeza, algo que não se esquece, sabe. Foi meio estranho e eu lembro de tirar fotos. Também entramos em algumas celas com os presidiários, foi sinistro. A única vez que tocamos em uma prisão. Falamos sobre tocar em Alcatraz em algum momento, but isso nunca aconteceu, até agora. Por que você fez essa pergunta?
DAVID: Só curiosidade (risos).
LARISSA: Ainda no assunto de Scorpions, Uli; uma vez você disse que foi um erro não ter feito a turnê americana antes de sair do Scorpions, então o que você acha que teria sido diferente se fosse tivesse feito essa turnê com a banda?
ULI: Bom, eu acho que foi um erro estratégico, da minha perspectiva. Pois quando eu fui para a América, e isso foi em 1985, não é que eu tenha tido que começar do zero, nós lotamos os shows, mas eu acho que minha carreira solo teria sido mais fácil se eu tivesse ficado no Scorpions para a primeira turnê americana, porque essa turnê já estava na mesa na época do Tokyo Tapes, e o Klaus e o Rudolf tentaram me convencer e eu disse não porque eu queria fazer o Electric Sun. Naquela época eu senti que era a decisão certa para mim, mas depois eu percebi que a minha vida teria sido muito mais fácil se eu tivesse ficado para mais uma turnê, talvez mais um álbum com a [gravadora] EMI. Mas as coisas são como são.
PATI: Nós temos mais uma pergunta para você, Uli, e vamos encerrando a entrevista. Não sei se você sabe, mas eu trabalhei na tradução do livro do David, O Outro Lado do Show.
ULI: Ahh, foi você. Eu pensei que ele tivesse escrito em inglês. Então ele escreveu em Português.
PATI: Sim, e eu fiz a versão em inglês do livro.
ULI: Certo. Então foi você. David, você trapaceou. Eu pensei que o seu inglês tivesse melhorado tanto.
PATI: Não, ele não trapaceou. Ele não trapaceou. Ele é um bom chefe, Ele é meu chefe agora.
DAVID: Não, não, não. A Patrícia é professora de inglês, [o livro] estava em boas mãos.
ULI: Muito bem. E qual é a pergunta?
PATI: Ele foi meu chefe por uns dois anos na verdade.
ROBERTA: Ah, meu também.
PATI: Bom, eu me lembro de quando eu estava traduzindo o livro do David, O Outro Lado do Show, tinha várias histórias sobre você e muitas se passaram no Brasil, quando o David trabalhou com você. Então eu gostaria de saber quais são as lembranças que você tem aqui do país e se tem alguma coisa que você ainda gostaria de viver no Brasil?
ULI: Eu tive muitos pontos altos no Brasil. Eu sempre gostei de estar no seu país e adoro o público, plateias lindas todas as noites. Onde quer que você vá. E isso faz uma grande diferença, sabe. Subir até a estátua de Jesus, para todos nós foi uma experiência realmente incrível e eu adoraria ir lá de novo, Toda aquela energia, e a vista, acho que eu nunca tinha visto uma vista tão bonita como aquela. São Paulo é bem diferente, mas eu caminhei muito pela cidade também, pois eu gosto de dar longas caminhadas durante o dia quando estou em turnê. E tem um parque.. Qual é aquela cidade que fica no centro, David?
DAVID: Goiânia.
ULI: Exatamente. Eu sempre caminho naquele parque. Tem um parque no meio da cidade e é bem mágico. Tem um lago grande com peixes grandes e tartarugas. Eu gosto de caminhar por lá.
DAVID: Mas você nunca esteve em Manaus, né? Na Amazônia.
ULI: Não, não, não, não. Eu adoraria ir lá, para ver o que sobrou da Amazônia. Espero que isso pare agora. Estamos tão preocupados com isso, que mais e mais tem sido desmatado a cada ano. Mas eu espero que isso pare, isso vai parar agora?
PATI: Sim, existem planos para que isso pare o quanto antes.
ULI: Por favor. Sim, por favor.
PATI: Não sei se você viu, mas ontem tivemos algumas novas ministras tomando posse. Uma delas é indígena.
ULI: Sim, isso é muito animador, e é ótimo. Vamos torcer para que seja um novo começo, porque a Amazônia não é importante apenas para o Brasil, mas para o mundo inteiro. Se perdemos isso, vamos perder tudo. Cada árvore importa e precisa ficar em pé, cada uma das árvores, porque quando elas se forem, será impossível que elas cresçam de novo, e todos os animais que tem lá, sabe? Bom, eu não preciso falar isso para vocês, vocês sabem. Mas então, eu adoraria ir lá. Nós tocamos apenas em algumas cidades. Tocamos em Curitiba, e você estava lá [David]. Foi legal também. Mas eu gostaria de visitar muito, muito mais do seu país. O problema é que a situação econômica na América do Sul é muito difícil, os produtores normalmente só contratam shows grandes, mas as turnês menores são difíceis de custear. E é por isso que não tocamos tão frequentemente aí. Se fosse mais fácil, eu iria todos os anos, eu tocaria todos os anos como eu faço na Europa, mas o seu país e América do Sul são tão grandes, que para todos os shows é necessário um avião para chegar aí. Quando nós tocamos na Alemanha, França, Inglaterra, nós viajamos de carro ou de ônibus e é fácil, mas não dá para fazer isso na América do Sul, é um grande problema de logística. Mas agora temos uma turnê marcada na América do Norte para este ano, em Setembro, e vai ser legal. Vamos ver se há potencial para voltarmos ao seu país para alguns shows também, mas até agora nada está certo. Sei que existe um interesse aí, então vamos parar por aqui. Dedos cruzados. Eu adoraria voltar.
DAVID: Quem sabe? Quem sabe você toca em Manaus e Salvador da próxima vez.
ULI: Sim. Uau, David, faça isso acontecer.
DAVID: Não sei. Mas acho que as coisas irão melhorar, quem sabe nos próximos anos.
ULI: Que bom, que bom, que bom.. É um novo começo e uma sombra se levantou e a escuridão irá recuar. Já consigo perceber isso. Mas, sabe, é importante que todos sejam otimistas e que saiam desse vale para o sol de novo – o outro sol, não o sol real, esse vocês sempre têm.
PATI: Estamos muito ansiosos.
ULI: É, ótimo.
PATI: Tá certo Uli, é isso.
ULI: Então obrigado pelas perguntas, e desculpe ser tão explícito com a questão do livro. É difícil explicar em poucas palavras. Aliás, eu ainda não achei uma forma de fazer isso. Talvez se eu fizer mais entrevistas eu consiga resumir em uma frase, sabe. Tipo, é assim e pronto, ou algo do tipo. (risos)
PATI: Mas nós realmente agradecemos você por ser tão minucioso e nos dar tanta informação. É como a Roberta disse, nós sabemos que você tem trabalhado nesse livro há tanto tempo, então obviamente não deve ser simples falar sobre isso.
DAVID: Obrigado, Uli. Espero ver você no domingo. Vou tentar correr e chegar em casa a tempo. Obrigado Roberta e Larissa.
ULI: Até mais!