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Por Roberta Forster
O início
Nunca antes a expressão "furacão alemão" fez tanto sentido para descrever a passagem do Scorpions pelo Brasil. Eles abalaram as estruturas, deixaram os fãs desnorteados e extasiados e foram embora tão rapidamente quanto chegaram.
Para os fãs, a saga começa muito antes do início da turnê. Os shows são anunciados e, após a surpresa e a euforia, começam os planos, as contas, as verificações de possibilidades, ajustando aqui e ali... Socorro! De onde vou tirar o dinheiro? No entanto, sabemos que de alguma forma, temos que estar presentes em um dos shows. E isso não foi diferente para a equipe do Scorpions Brazil. Infelizmente, nem todos têm a mesma sorte. Existem fãs que dependem de seus pais, fãs desempregados ou simplesmente arrasados financeira e emocionalmente após uma pandemia devastadora, tentando se recuperar do caos social e político em que o país mergulhou. É por isso que, cada vez mais, tentamos trazer os shows e a banda um pouco mais perto de cada um dos fãs espalhados pelo Brasil. E aqui vamos nós para mais um diário de uma turnê!
Esta turnê em particular foi um pouco bagunçada em termos geográficos. O sobe e desce pelo país dificultou a locomoção dos fãs que dependem de promoções e preços baixos de passagens aéreas ou de ônibus, o que resultou em escolhas difíceis: quais shows deixar para trás? A equipe do Scorpions Brazil está espalhada por três das cinco regiões do país: Sul, Sudeste e Nordeste, o que nos permitiu ter pelo menos dois membros presentes em quatro shows, deixando apenas Manaus, que estava completamente fora de mão e fora das possibilidades financeiras de todos nós.
No entanto, não se tratava apenas de viajar e curtir os shows. Como poderíamos incluir os fãs nessa jornada? Começamos uma intensa busca de parcerias com as produtoras para promoções de ingressos e, principalmente, meet and greets, para proporcionar a possibilidade de realizar o sonho dos fãs de chegar mais perto da banda, mesmo que por um breve momento durante o flash de uma foto. Entramos em contato com todas as produtoras e a maioria foi solícita. A Opus Entretenimento concedeu um par de ingressos para Florianópolis e outro para Porto Alegre, e para a alegria geral da nação, um meet and greet para cada um dos dois shows, para que pudéssemos disponibilizar aos fãs. Então começamos a estudar as formas de realizar essas promoções: Sorteio? Frase mais criativa? Decidimos sortear os ingressos e deixar os meet and greets para as frases com mais curtidas no Instagram. E então a BConcerts disponibilizou DEZ pares de ingressos para sorteio no show de Ribeirão Preto. Foi uma festa de prêmios para os fãs! Foram 24 fãs presenteados com ingressos em três shows e duas fãs com o Meet and Greet.
Ribeirão Preto
Promoções realizadas, fãs contemplados e muito mais por vir. Estava na hora de começar, de fato, a nossa turnê. Inicialmente, já estava decidido que eu iria para Ribeirão Preto encontrar o David e mais alguns amigos. Quase desisti por conta de alguns problemas pessoais, mas no final deu tudo certo e então viajei a madrugada toda de ônibus para chegar na manhã do show em Ribeirão. Cheguei na cidade às 5 da manhã e fui diretamente para o hotel onde a Larissa estava hospedada. Iríamos dividir o quarto para conter despesas. Ocorre que o hotel tinha uma vibe de obra do Stephen King adaptada para o cinema, além de me atenderem muito mal. Então, assim que a Lari acordou, falei para irmos para o hotel em que me hospedei em 2008, quando o Scorpions tocou em Ribeirão Preto na turnê eletroacústica.
Scorpions em Ribeirão | Por David Araújo |
Acordei por volta de uma da tarde, e a Lari estava lá, com toda sua energia de uma jovem de 25 anos e louca para cair na piscina, afinal, a diária era cara e tínhamos que fazer valer a estadia em um hotel cinco estrelas. Ocorre que nem eu nem ela havíamos nos preparado para esse upgrade de hotel e, sem roupa de banho, caímos na piscina de roupa e tudo. Havia um Scorpion na piscina, e então dois, três deles… de repente, quase todo mundo estava lá. Eu não sabia onde enfiar a minha cara, fiquei de costas tentando fingir normalidade e ignorar que eu estava mergulhando de calça e camiseta e interagindo com as galinhas d’angola que passavam pelo local. Depois de um tempo, eu saí da piscina e fui tomar um banho, encontrei Rudolf no meio do caminho, que riu, me cumprimentou e perguntou se eu havia sido jogada na piscina. Um vexame que valeu a pena.
Tomei banho, comecei a me arrumar para o show e fui levar a toalha da Lari. E então descobri que o segurança a havia abordado de forma rude e grosseira, exigindo que parasse de filmar e invadir a privacidade dos clientes, o que a deixou espantada. Ela apenas respondeu a verdade: estava tirando fotos do local para enviar aos seus pais. Afinal, não é todo dia que se hospeda em um hotel que tem um bar no meio da piscina. E de fato, em nenhum dos seus registros era possível ver nenhum dos integrantes. Somos fãs, mas não somos sem noção. Para minha sorte, eu não estava presente no momento, pois não teria sido tão educada em resposta à brutalidade de homens tão rudes. Antes de fãs, somos pessoas e, naquele momento, hóspedes pagantes de um hotel muito caro do qual tínhamos direito de usufruir.
O stress foi deixado para trás rapidamente e fomos embora da piscina com um tchauzinho debochado para nossos novos "amigos" brutamontes. Afinal, dentro de poucas horas, estaríamos curtindo um show do Scorpions após um longo hiato de abstinência do furacão alemão devido à desgastante pandemia. Em seguida, já prontos para a grande noite, encontramos com David, Bela e Rosalva, que vieram de Campinas, e fomos para o local do show. Como sempre, foi uma aventura descobrir onde estavam nossos ingressos, pois é comum que as pessoas no evento nunca saibam de nada: não sabem onde está a lista, não sabem onde é o meet and greet e também nunca acreditam que somos convidados da banda. Larissa ficou emocionada ao descobrir que estava na lista; decidimos incluí-la, pois já estávamos pensando em convidá-la para a equipe do Scorpions Brazil: jovem, jornalista, com experiência em grandes veículos do rock, como Rolling Stone e Wikimetal, empolgada e cheia de ideias; ela teria muito a contribuir com o site e nossas redes sociais, ela só não estava sabendo disso ainda.
Aliviados com nossos ingressos e passes VIP na mão, lá fomos nós. Meet and Greet travessao – ou Meet sem Greet porque é tudo muito rápido, mal dá tempo de dar um oi para a banda e já somos colocados para fora pelos seguranças simpáticos. Eles nem sequer teriam nos deixado entrar se o tour manager, Alex, não viesse em nosso socorro para dizer: "Ei, eles estão comigo!" e impedir que fôssemos expulsos do local. Quer dizer, eles não respeitam nem o crachá VIP fornecido pela própria banda. Mas tudo enfim compensa quando os cinco sorriem para nós em claro reconhecimento de quem somos, e então saímos de lá com o coração quentinho e um incrível show pela frente.
Depois de um belo lanche no Hard Rock regado a cerveja e amigos, é hora do show. Coração a mil e expectativa nas alturas (todas superadas) com um show espetacular. David e Bela já haviam assistido aos shows da nova turnê anteriormente, mas para mim, Lari e Rosalva era um show completamente novo e estávamos ansiosos para quebrar aquele longo jejum de Scorpions.
O palco era muito alto e o chão desnivelado, mas toda a infraestrutura, que parecia improvisada após a mudança de local, parecia irrelevante diante do espetáculo que seguiu. O setlist, como esperado, era o mesmo realizado desde o início da turnê mundial do Rock Believer, e matou a fome de todo mundo que estava sedento pelo bom e velho rock and roll, entre músicas novas e clássicas. Scorpions conseguiu deixar Ribeirão em puro êxtase.
Eles entraram no palco às 9h15. "Gas in the Tank" deu aquele gás na galera, e a partir daí foi só pauleira. "Make It Real", "The Zoo", o tradicional "Coast to Coast" que leva os quatro para a frente da passarela, enlouquecendo a galera. O público vibrou tanto com "Seventh Sun" e "Peacemaker" que as músicas pareciam já ser clássicos antigos da banda. O show não estava especialmente lotado, era possível manter um distanciamento confortável das pessoas no público e, desta forma, não foi difícil chegar à grade.
Larissa era a pessoa mais empolgada da plateia, e acho que eu nunca gritei tanto em um show, extravasando toda aquela tensão reprimida por tanto tempo confinada na rotina do home office (e a Bela mais atrás se divertindo ao filmar nossa empolgação). E assim seguimos curtindo "Bad Boys Running Wild", "Delicate Dance" e "Send Me an Angel" (que fez a Lari se debulhar em lágrimas). "Wind of Change", como sabemos desde o início da turnê mundial, mudou a letra em homenagem à Ucrânia. Foi fácil acompanhar a nova versão, uma vez que a nova letra era reproduzida no telão, e o coro no refrão foi único, como não poderia deixar de ser. E então veio "Rock Believer". Sério, como podem canções novas empolgarem tanto? Estava realmente incrível. O solo do Mikkey Dee deixou todo mundo doido, seguido de "Blackout" e "Big City Nights". Daí veio aquele "peek a boo" para adultos em que a banda finge deixar o palco, a gente finge acreditar que eles foram embora, e então eles voltam deixando a plateia em polvorosa para cantar os clássicos "Still Loving You" e "Rock You Like a Hurricane". Resumindo, foi um show para ficar sem voz!
Fim de show, de volta ao hotel, banho e cama. O dia seguinte é dia de estrada de volta para casa para recuperar as energias, enquanto eu vou dormir o dia inteiro para me preparar para o Monsters of Rock, David, Bela e Rosalva vão encontrar Patrícia em Florianópolis.