Começamos um diário de turnê diferente dessa vez. Vale explicar que eu, David, me casei em outubro do ano passado. Além de ter pedido Bela em casamento na frente da banda ainda em 2022, eles gentilmente enviaram para nós um vídeo de felicitações que foi exibido na recepção do nosso casamento naquele dia 14 de outubro. Uma honra e tanto! Após isso, voltamos a nossa vida normal, casados é claro, esperando por uma oportunidade que faria sentido ter uma lua de mel tão especial quanto os acontecimentos anteriores que falei. Com rumores de mais uma residência em Las Vegas, resolvemos esperar, e dito e certo. Planejamos tudo para que nossa Lua de Mel fosse na terra do Elvis casamenteiro, apesar do motivo ser bem claro. Assim, o tempo passou e o dia de viajar chegou.
Chegamos em
Las Vegas para o show de número 3 (de 9), no dia 18 de abril. Ao desembarcar,
já nos deparamos com letreiros anunciando o que tanto aguardávamos: os shows de
Scorpions! Assim como nos imensos painéis de led espalhados pela Strip, a
principal rua de Las Vegas, bem próximo ao Planet Hollywood que abriga além de
cassino e shopping, o Bakkt Theater (antigo Zappos Theater), local dos shows!
Estivemos em quatro apresentações,
mas irei reunir aqui o melhor desses quatro dias como se estivéssemos em um
grande e único show! (já que o setlist permaneceu o mesmo para as nove datas em
Las Vegas).
Com nossos acessos, nos encaminhamos para a fila que nos levaria ao meet and greet, procedimento parecido com o adotado na residência de 2022. Chegando à área de backstage, começamos a ver rostos bem familiares, como do nosso grande amigo Léo Soares! Além de Joe Gerrans, o cara da segurança no Bakkt Theater. Nossa vez de ir ao meet and greet chegou e já fomos recebidos com surpresa e alegria por Rudolf, Pawel, Klaus, Matthias e Mikkey. Esse foi o nosso primeiro contato depois do casamento, que foi o assunto naqueles poucos segundos quando Pawel brincou: “vocês ainda estão casados?”. Respondemos mostrando as alianças e ganhamos uma foto bem especial com a banda completa.
De volta ao lobby do teatro, pudemos conferir o merchandising dessa turnê que estava bem legal. Era hora de checar os nossos lugares e aguardar por Ugly Kid Joe, banda que acompanhava Scorpions abrindo os shows. Surpreendeu-me o quanto a plateia os abraçou nos quatro shows em que estivemos presentes, era como se estivessem diante de velhos amigos celebrando juntos algo especial.
Finalmente falaremos do que
interessa: o show de Scorpions! Um novo show com setlist alterado pela
comemoração de 40 anos do Love At First Sting. Ainda que eu tenha visto vídeos
dos primeiros shows, tudo aquilo seria novidade para mim. Assim, trovões e
relâmpagos no grande telão de led anunciam que o show iria começar! O sonho de
ver ao vivo a intro de Coming Home está prestes a se concretizar. É assim que
os shows dessa turnê estão iniciando, lendário!
“Every morning when I wake up yawning, I'm still far away. Trucks still
rolling throw the early morning, to the place we play…” Canta Klaus surgindo por trás do
belíssimo palco preservado da turnê anterior, enquanto a capa do Love At First
Sting também dá as caras apresentando o que está por vir com um show de luzes.
Mikkey Dee põe fim à calmaria, seguido das guitarras de Matthias e Rudolf, “Jump on the seats, put your hands in air” prontamente
atendido! Os assentos não são ocupados em momento algum tamanha empolgação do
público de um teatro lotado. Eles finalizam a primeira música da noite com “Coming Home to Las Vegas, Nevada!”.
Como a fórmula anterior deu muito
certo e o sucesso do álbum Rock Believer perpetuou, “The king of riffs is back
in town” novamente! Gás in The Tank permanece no setlist, o que eu
particularmente achei certeiro, há tempos não tínhamos uma música inédita tão
enérgica como essa. Make It Real, The Zoo e Coast To Coast seguem contínuas
pois como falamos, o que está dando certo não se mexe.
“É ótimo estar de volta a Las Vegas, Nevada! … voltar para uma residência
e tocar nove shows em Vegas, eu acho que não tinha forma melhor de começar o
ano para nós… Essa noite é para celebrar o 40o aniversário do Love At First
Sting, você acredita que já fazem 40 anos? Mas voltaremos mais tarde, para
agora 42nd street… The Zoo!”.
Após o término de Coast To Coast,
Klaus fala um pouco mais, explicando o que vem a seguir: “Agora voltaremos para os anos 80, bons tempos! 1984, Love At First
Sting! Nós tocamos essa próxima música um tempo atrás, mas há muito tempo, e
voltamos a ensaiar e ela se tornou novamente uma das minhas favoritas agora, é
uma música antiga, mas continua linda. A outra música nós nunca tocamos em uma
versão elétrica, apenas orquestrada, vocês já podem imaginar qual seja, então
cantem o mais alto que puderem! Certo!? I’m Leaving you…”
É incrível como, pouco mais de 10 anos depois da última vez que tocaram essa música em uma turnê, ela só tenha melhorado ao vivo. E aqui aproveitamos para fazer alguns comentários sobre a performance de Klaus Meine. Sua voz continua tão incrível e I’m leaving you é uma prova disso, leves escapadas deixam claro que é tudo de verdade e esse senhor continua se apresentando magicamente a cada show. É bem verdade que ele permanece um pouco mais estático que na turnê anterior em seu posto central no palco, mas também completamente esperado para quem passou por duas cirurgias recentes nos seus 75 anos de idade, nada que diminua ou atrapalhe o andamento do espetáculo e isso deve ir melhorando cada vez mais com o tempo.
Klaus volta a falar com o público: “Esse cara tocou na banda por mais de 20
anos, e essa noite nós gostaríamos de dedicar a próxima música para o nosso
querido amigo James Kottak, um irmão de outra mãe… Send Me An Angel”,
enquanto o nome de James é exibido no palco com uma foto. Uma homenagem
totalmente merecida e bonita de se ver. James foi um dos maiores Scorpions sem
dúvida.
Wind of Change surge mais uma vez com
uma pequena alteração na letra, e não mais citando a Ucrânia, desta vez de uma
forma mais abrangente e aparentemente definitiva: “Now listen to my heart, it still believes in love. Waiting for the
wind, To Change”. A fim de não mais romantizar a Rússia, parece certo
atualizar e encarar todo o contexto histórico para essa mudança.
A tão agitada Tease Me, Please Me
também não perdeu seu posto no setlist, e faz bem depois do momento mais calmo
entre Send Me An Angel e Wind Of Change, não mantiveram ela ali por acaso. Em
seguida o outro ponto alto do Rock Believer: Peacemaker! Para mim certeira
também em continuar no setlist, pois casa bem ainda com todo o momento em que
vivemos no mundo, eu diria até que seria a Wind Of Change da nossa geração.
É a vez da outra grande surpresa da
noite, Klaus fala: “Vamos voltar
novamente para o álbum Love At First Sting e nesses 40 anos essa música nunca
foi tocada, se chama The Same Thrill”. O que Klaus diz não está tão errado
se considerarmos o lançamento do LAFS, pois The Same Thrill foi tocada duas
vezes na Inglaterra no final de janeiro de 1984, e então esquecida. O álbum saiu
no final de março daquele mesmo ano. Detalhes de fãs “chatos” apenas. O que
posso dizer é que fomos agraciados pela história em poder ver isso ao vivo,
daqueles B-Sides que não imaginamos mesmo ver na vida, e o que notamos de cara
é uma banda completamente alinhada e contente, estão bem à vontade em fazer
aquilo, como a própria filosofia da música diz.
Mikkey Dee continua quebrando tudo em
seu solo, dessa vez atualizado com sua máquina Jackpot gigante, incluindo fotos
da banda e preservando homenagens a James e Lemmy. No fim, as sirenes são
ligadas e você já deve imaginar, vem aí Blackout! Algo de novo que posso
comentar é o uso da máscara por Rudolf! Mas apenas em um ou outro show da
residência, como no dia 20 por exemplo.
Big City Nights anuncia que o fim do
show está próximo, já temos aquela sensação de que tudo passou muito rápido e
não queríamos sair dali, mesmo depois de ver o terceiro ou quarto show seguido.
A tríade final das músicas não se altera pois funciona muito bem. Eles se
despedem e retornam para o encore com Still Loving You e Rock You Like A
Hurricane para fechar a noite. Fica aquele sentimento de satisfação por ter
visto 1h30 de algo lendário: exatamente o que eles são. Mas fica também aquela
sensação de nostalgia, saudade e esperança pela próxima vez, e que seja breve!
Com o término do show, podemos ir até
o backstage encontrar novamente com nosso amigo Léo, que inicia imediatamente
todo o processo de limpeza e ajuste da bateria de Mikkey Dee, sempre impecável.
Além de encontrar também os grandes amigos da crew como Jindřich Jankulár e
Malte Krug, falar com as lendas Peter Kirkman, Ingo Powitzer e Rainer Becker, e
claro, dar aquela passadinha rápida pelo PA e conversar um pouco com Manfred
Nikitser. Também tivemos o prazer em conhecer novos amigos como Marian Kuch.
Esses caras, e tantos outros, estão nos bastidores fazendo um trabalho incrível
para que todos os fãs possam ter a melhor experiência possível, vale sempre
agradecê-los por fazerem isso tão bem.
Após vários dias em Las Vegas, tive o privilégio de compartilhar ótimos momentos com tantos amigos e pessoas fantásticas. Um agradecimento especial a Alex Malek e Bill Barclay por todo o suporte de sempre e por tornarem tudo isso possível novamente!
Scorpions voltou aos palcos no dia 17
de maio, em Abu Dhabi e continua uma série de shows pelo oriente médio, Ásia e
leste europeu, até voltarem para a Europa para grandes festivais e por fim uma
turnê pela Alemanha.
No ano que vem, a banda comemora 60
anos de estrada e temos certeza que uma nova turnê, com muita coisa especial,
está por vir — inclusive passando pelo Brasil! Aproveitemos bastante, pois
é um privilégio poder estar na companhia dessas lendas vivas!